sábado, novembro 25, 2006

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal

Nunca te escrevi uma carta sabias? Nem quando era mais pequena. No meu tempo não eras como te tornaram hoje em dia. Não te apercebeste? Bem, no meu tempo eras só aquele velhinho que saía de casa, lá onde faz muito frio, na véspera de natal e entrava por artes mágicas em casas, mesmo naquelas que não tinham chaminé, para deixar prendinhas... tinhas as tuas renas e os duendes que te ajudavam. era muito engraçado. lá em casa só abríamos os presentes na manhã do dia 25. na noite que precedia esse dia eu e a minha irmã tentávamos não adormecer para ver se algum dia davamos por ti. eras muito esperto. de qualquer maneira agora não sei o que fizeram de ti... deves estar em casa quentinho com a mãe/esposa natal e nem te apercebes que por cá não te tratam muito bem. Aliás não tratam bem ninguém, essa é que é essa. Bem há pessoas que nesta altura se vestem como tu para terem mais uns trocos. Vens nas latas e garrafas de coca-cola como se fosses uma marca. E a maior parte das crianças nem acreditam que tu existes. Aquela fantasia que te envolvia e te tornava tão especial foi e está a ser completamente adulterada... Não sou nenhuma velha do restelo, percebes... mas há um limite para tudo, embora para a maior parte os limites são aqueles que eles bem entendem, sem entenderem que passam por outros para alcançá-los que não havia necessidade.
De qualquer maneira há uma certa crueldade gratuita que tomou conta do mundo e das pessoas. Ninguém tem certeza de nada. Acredita-se pouco porque há falta de coisas para acreditar, falta em quem acreditar. Mas também não te quero aborrecer com estas coisas...
Agora que cresci a magia do natal perdeu-se um bocado. Aliás acho que se começou a perder quando me disseram que tu não existias e a prova estampada no rosto da minha irmã quando lhe contei. achavam que a determinada altura já é altura de sabermos certas verdades que no fundo pouco importam. como aquilo que costumam dizer "ah! agora que te veio a menstruação já és uma mulher" e tu não entendes nada porque ainda és novinha e só sabes que vais ter de aguentar todos os meses, durante algum tempo, essa chatice que é...
enfim, o natal é mais uma reunião de família em que o meu tio bebe uns copos de coca-cola e parece que bebeu uma garrafa de vinho. a nossa fantasia de outrora desvaneceu-se, mas ainda temos certos rituais, ou tinhamos... o natal também era mais divertido quando os meus bisavós estavam vivos... é verdade que os melhores natais são os que guardo na minha memória. Os próximos não sei como serão. Este não vai ser particularmente especial mas alguma coisa se há-de arranjar né?

Um beijo grande

Ana

PS - agasalha-te bem, eu sei que não tens idade nem esses problemas de saúde que atacam os comuns mortais, mas pronto... se passares pelas casas daqueles a quem eu quero bem deixa-lhes uma brisa suave. e se vires a cinderela deita-a direitinha está?
Obrigada Pai Natal.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Há poucos dias atrás tive a noção, ou andei lá perto, de que tudo o que tinha escrito até agora tinha finalmente encontrado um destinatário. já não sou só eu e a caneta mas há alguém para quem tudo, ou quase, devo dizer. não tenho certezas, cada vez tenho menos em relação a isso. queria-lhe perguntar em que pensa e o que quer, mas recuo e penso que se não mo diz não quer nada, nem pensa em nada. todos temos medo de sofrer. mas se não dermos o passo em frente... se calhar não valho a pena. se calhar ele não sabe que se caisse eu estava sempre lá para lhe estender a mão... eu gostava que ele soubesse. disso e de muitas outras coisas... entre elas que gosto dele. muito. que tenho medo muito. que tenho muita vontade e muitas saudades. que tenho medo que o tempo nos troque as voltas e depois já não haja tempo para nós. nós que ainda não existe senão na amizade que partilhamos e isso é bonito... é tudo muito bonito o que estou a viver... não que quisesse que fosse sempre assim, mas o que tem de ser tem muita força e neste momento o que tenho, não me bastando, faz-me feliz...

domingo, outubro 15, 2006



Escuto
Lá fora
O silêncio apregoa:
Vende barato
A alma que se veste de luto.
Recuso
Que dela faça ele uso
Que da minha também estou farto.

sábado, outubro 07, 2006

Jogo de Palavras


As palavras não meço
Que digo sem pensar
Nelas tropeço
E o que digo
Logo contradigo
Acabando por magoar

Falo sem querer
Sem me conseguir ouvir
Não sei o que dizer
Mas não o queria sequer
Nem o disse por sentir
...

sexta-feira, outubro 06, 2006

O Amor


Falar sobre o amor é a priori redundante. Afinal, o que é que se escrever sobre o amor que acrescente algo ao tanto que já foi escrito, contado e cantado sobre ele? Não é tarefa fácil, longe disso. Assim, começo por dizer que o amor é o amor, porque só há um amor. E, o amor integra dentro de si, na simbólica metáfora de um coração, muitos tipos de amores, pois é grande o coração que sente.

O amor é uma palavra mas é muito mais que uma palavra – é um sentimento. É uma palavra impregnada de outras palavras e um sentimento coadunado a tantos outros sentimentos.

Se começarmos pelo básico, há dois tipos de amor, duas grandes categorias que são o amor correspondido e o amor não correspondido. A partir daqui é que tudo se complexifica. Isto porque dentro destes dois tipos de amor há muitos outros (o amor é dúbio, enorme e muito) como o amor-ódio, amor-paixão, amor-amizade, amor-filial, amor-carnal,… Mas tudo é amor-amor. E não há nada mais puro que esse amor-amor, nascido do nada, mais forte que tudo, imprevisível, exigente, lamechas, que tem tanto de bom como de ingrato. Ora nos faz atingir a plenitude da máxima felicidade como a mais funda, profunda e dolorosa tristeza.
A dor e a tristeza estão, intrinsecamente, ligadas ao amor. A felicidade mais não é senão breves momentos em que a dor se ausenta, pois em si a felicidade não existe, apenas a ausência de dor.

É mais fácil falar do amor quando não se ama, porque quando se ama não temos nada a apontar ao nosso amor, mesmo as pequenas feridas por ele provocadas são envolvidas nessa imagem idolatrada, que as cura de forma quase imperceptível.
Nem sempre sabemos que amamos. Mas quando amamos não temos dúvida alguma. É fácil para aquele que não ama duvidar dos seus sentimentos, porque eles não são fortes nem bafejados pelo amor. O amor traz-nos medo, insegurança. Faz com que pareçamos tontos, damos por nós a sorrir no metro ou no autocarro só porque nos lembramos do nosso amor. O amor torna-nos outra vez crianças .

O amor não é só um gostar muito de. É um gostar muito, muito até ao infinito vezes infinito. É o gostar supremo e é isso que o torna numa palavra intocável, pronunciada a medo quando realmente sentida e nunca por outra razão qualquer.

O amor implica um ultrapassar o nosso eu, o nosso egoísmo ou egocentrismo e transportarmo-nos para o outro, ao ponto dele se tornar mais importante que nós próprios. Mas o amor tem limites, tem diferentes intensidades. O sofrimento a longo prazo e quando grande pode matar o amor, pode mesmo transformá-lo em ódio, raiva, obsessão ou num simples ignorar do outro.

O amor adquire em primeiro lugar a forma de um sonho, uma ilusão que nos alimenta o coração desde a mais tenra idade. Por isso é que amamos, antes de tudo, a ideia de amar. De amar alguém, claro, em quem projectamos as nossas fantasias e esperanças num corpo fantasma, sem rosto nem forma, que não conhecemos senão através de nós mesmos e do nosso imaginário.
O amor é um código preenchido por qualquer pessoa como entender. Não há regras ou se as há são para serem esquecidas. É um som que reclama um eco. O discurso amoroso vem do íntimo. Muitas frases não chegam a ser ditas, detêm-se no pensamento, a língua dá um nó e tudo sai ao contrário do que se esperava.

O amor está cheio de figuras e estas encarnam as incertezas. As palavras no discurso de amor dependem de um acaso, de uma ordem arbitrária. De nada adianta ensaiar. O discurso é sempre um autêntico caos com o coração a bater mais forte que nunca.

No amor a experiência não serve de nada. É assim, começa-se sempre do zero. Sabe-se nada. Népia. Damos saltos, rimos por tudo e por nada, olhamos horas sem fim para o vazio, sonhamos acordados.

O ciúme costuma ser uma paixão totalitária, consequência directa da insegurança. Nas coisas do coração por muito democrática que seja a nossa razão, somos todos fascistas.
Queremos prender o ser amado numa masmorra, para que ele seja só nosso e de mais ninguém.
O ciúme nasce da insegurança e corrói terrivelmente o pensamento. Por outro lado ele é apenas o princípio do amor. Quem tem ciúmes tem medo de perder e quem tem medo de perder é porque preza aquilo que tem.
Mas é preciso controlar os ciúmes, o que não é fácil, pois tal implica termos confiança plena em nós mesmos e no outro.
Quando se ama alguém a ideia de deixá-lo em liberdade é uma tortura. E por isso, porque achamos que valemos tão pouquinho, é que proibimos quem amamos, apetece privá-lo de todo o contacto humano. Projectamos no sujeito que amamos uma visão estética – ser perfeito. O outro revela a especialidade e a especificidade do meu desejo – amo-o a ele a não a outros. É uma escolha rigorosa, ainda que inconsciente, e difícil essa tarefa de encontramos a outra metade que encaixa perfeitamente em nós. Por isso tememos tanto a sua perda.

No campo da literatura, do cinema, da música, o grande amor (se é que se pode medir o amor em grande médio ou pequeno, e eu penso que não) aparece-nos em duas figuras estereotipadas e imortalizadas pela obra mais conhecida de Shakespeare: Romeu e Julieta. Ícones das atrocidades do amor, do quanto ele é injusto e insensato visto que só na morte se encontram e se podem amar.

No amor a plenitude existe (mas aterroriza), a dor ausenta-se e avista-se a felicidade, entre um beijo, um abraço, uma cópula.

A tragicidade do amor está inexoravelmente associada ao amor. Palavras como o destino ganham grande projecção. A ideia de que o amor é algo que nos transcende, deixado aos desígnios dos deuses que são muito maiores que nós, pobres mortais, bafejados por essa imensa sorte de sentirmos algo tão puro (?!).

A verdade é que, como alguém disse, todo o amor é um engano. "Trata-se é de nos enganarmos bem…". Não me parece... mas preferia enganar-me uma vez que fosse do que nunca ter tentado...

Quando



Quando te lembrares de mim, se te lembrares de mim, eu vou estar muito longe daqui. À procura do que me foge, fugindo às lágrimas que correm no rosto, correndo para delas me desencontrar.

Se alguma vez te ocorrer pensar em mim, eu já não serei aquela menina mimada. Vou estar algures por aí, se calhar mais perto de ti, a ver a felicidade a passar, buscando os estandos da felicidade, a envelhecer calmamente.
Não voltarás a ver-me aqui. A viagem faço-a pelo mundo até à terra do não-sei-onde-mas-para-sempre.

E quando te lembrares de mim, então aí, estarei morta e enterrada e tu nunca saberás quem fui e eu nunca to poderei dizer...

domingo, outubro 01, 2006

Sim/Não???


Meu amor
Volta para mim
Dou-te o meu colo
E no teu choro
Sim?

Meu amor
Do coração
Repara:
Não quero estar só
Não?

Meu amor
Diz-me paixão
Afinal – amas-me
Sim ou não?

quinta-feira, setembro 28, 2006

Noite e Dia


Às vezes à noite
Acontece
Ouvir o teu respirar
Que com a manhã
Desaparece
Para mais tarde regressar


Às vezes à noite
Parece
Sentir o teu calor
Que a manhã
Arrefece
Mas faz tremer de amor


Às vezes a noite
Esquece
O teu ser em mim
Que a manhã
Entorpece
Numa lembrança sem fim


Às vezes na noite
Permanece
Um cheiro que é só teu
Que a manhã
Desvanece
Para torná-lo meu


Às vezes o dia
Perece
Ante tua imagem fugidia
Que a noite faz com que
Regresse
Assim como a minha alegria

Autor

“Autor: o que se expõe mais do que se expõe, o que inventa e o que se inventa, o que se finge, o que se esconde, o que se mostra”

in “A Terceira Rosa”
Manuel Alegre

quarta-feira, setembro 27, 2006

Quem


Quem me abandona
Sob a luz fugidia
E amaldiçoa
O dia que principia

Quem veio de onde
E me levou para perto
Quem de mim esconde
O meu vasto deserto


Quem me canta baixinho
A dor da habituação
E depois, devagarinho
Me conduz à solidão


Não me inspiras um poema, vida minha
A alma cinzenta consome toda a euforia
Fica somente a cor sombria
E no passar do tempo
Permaneço sozinha....

Fuga


Era noite
Ela fugia
E não temia
Os segredos ocultos
Ou leves tumultos
Que se levantavam
Não os ouvia
Apenas corria
Sem tropeçar.

Era noite
Sem destino traçado
E o corpo aliviado
Não queria parar.
Ela não sabia
Mas a alma vazia
Também corria
Para a alcançar.

A noite cerrou-se
E o coração fechou-se
A quem quisesse entrar
O silêncio profundo
E a ausência do mundo
Fê-la desencontrar
E o que procurava
Já alto voava
Por entre o luar.

terça-feira, setembro 26, 2006

Névoa


Vão longe as noites quentes de Verão

Longe vai o barco que navega no mar

Aproxima-se a dor que corroi o coracão

Está perto e eu prestes a chorar


Vai longe a doce sensação

De me sentir bem e sorrir

Bem mais perto esta a vontade

Desta magoa que não quer partir


Partirei eu um dia

E na morte encontrarei um céu a brilhar

Deixará de ser minh´ alma vazia

Deixarão meus olhos de chorar


As lágrimas que cobrem meu rosto

São marcas que a dor causou

Talvez com o sol de Agosto

Possa dizer que o tormento terminou


Nesse dia gritando espalharei

Que não sou triste, estou contente

E tudo que no passado chorei

Foi compensado pelo sereno presente

sábado, setembro 23, 2006

...


Vejo-te ao longe, e tu nem imaginas que te namoro com o olhar. Gosto de estar assim, quieta, passando completamente despercebida, completamente absorvida na tua imagem real diante de mim. Longe, é certo, mas irritantemente próxima. Ou não vivesses dentro de mim...
Observo os teus gestos, e o teu riso. Sei que não sorris para mim mas isso não importa. Não desconfias por um momento que és alvo da minha atenção, que estou completamente agarrada e dependente do sentimento que me despertas. Não preciso de ti mas não dispenso já o que sinto em relação a ti. Não preciso de mais. Muito menos de ser descoberta. Porque o amor basta ao amor.
Parece-me que sabes, mas sempre foste bom a não mostrar o que te vai no coração. Às vezes nem sei se a vida te contemplou com um, dada a tua insensibilidade em relação a certas coisas. Mas não te conheço bem, só o suficiente, que é demais, no meu caso.
Não se trata de um amor não correspondido. Nem poderia ser. Mas a dúvida entreposta entre uma eventual simbiose atrai-me. Parece masoquismo, eu sei, mas não é disso que se trata. Trata-se somente de eu gostar de ti e querer que as coisas continuem assim, tendo eu o monopólio exclusivo deste sentimento que diria impartilhável. Pelo menos por enquanto. Até deixar de ser, se alguma vez o tiver de deixar.
Estás de facto longe. A tua imagem não passa de uma sombra vista daqui que o pensamento aproxima da realidade do que tu és. Não és mais do que uma sombra que preenche todo o horizonte e o faz encher-se de cores. As cores da tua alma que agora saem da tua esfera pessoal e ficam ao alcance de todos. Tenho ciúmes. Quero-te só para mim.
E não é egoísmo. É mesmo assim. Não gosto que te mostres aos outros porque não quero que eles saibam a razão porque te amo. Depois isso passaria a ser domínio público e seria um problema, não?
Beijo-te de longe e confio no vento para que to faça chegar. Rasando de leve a tua face, como um afago sentido em segredo.
Sei que não tarda vais-te embora empobrecendo o meu olhar ansioso e nunca saciado de ti. Então não sei o que vou fazer. Provavelmente sonhar contigo, pois já compreendi que a tua imagem é muito mais forte que o desejo que tenho por vezes de que me deixes em paz.
Se fechar os olhos continuo a ver-te ao longe. Sei-te como que a uma lição decorada, o que não deixa de ser perturbador... Acho que nunca te olhei de perto, receando que o teu olhar possa ler qualquer coisa no meu, que sei que me denunciará, traidor.
Circunstancialmente é assim que penso em ti, com a distância imposta por quem quer evitar acima de tudo surpresas menos agradáveis e o espaço necessário para deixar que as sombras que me complementam possam ganhar forma sem ter medo que um dia se faça luz.

Um sentido chamado sexto


Dizem que o que os olhos não vêem o coração não sente, mas às vezes pressente... Pelo menos ela pensava que assim o era, e pensava tanto que era quase uma certeza isso que tantos chamam de sexto sentido, pertença quase exclusiva do sexo feminino, de parte desconhecida do organismo. Uma adivinhação quase sempre certa, um pressentimento quase nunca refutado pela prática. Uma mais valia. O que quer que seja a verdade é que há olhos que o amor torna cegos e a paixão não deixa enxergar mas ainda assim o coração bate a determinado momento mais forte, torna-se capaz de ver mais longe, onde nenhum olhar pode chegar, determinar factos que aconteceram sem que deles se tenha qualquer certeza, uma espécie de olfacto misturado com tacto, do mais aprofundado que existe na face da terra. Sabe-se e pronto.
Ela sabia-o muitas vezes, por vezes antes de acontecer efectivamente, quase que parecia bruxa não fosse o senso comum atribuir-lhe tal designação. Muitas vezes sentia o coração doente de tanto que conseguia ver. Para lá do amor e da paixão que a cegavam. Talvez porque nunca tenha nenhum tido a capacidade de lhe retirar por completo a noção do espaço e do tempo que o coração lhe confinava e confiava tão bem.
Com um sexto sentido, sabia ler nas entrelinhas do amor o que ele próprio ainda não previra. Sem cair no calculismo. Rasando a previsão. Completamente e inevitavelmente presa a essa adivinhação sem futuro que somente trazia dissabores. Preferia não ter nenhum sentido, nenhum pelo menos denominado de sexto. Abdicaria dele se necessário. Mas nunca foi necessário nem preciso.
Ela tinha essa capacidade quase sobre-humana de nascença, como um sinal que nasce com a gente, daqueles que nos acompanham o crescimento, mas não mudam de cor, mantendo-se na sua essência inalteráveis.
Por tudo isto e tudo isto para dizer que não adiantava mentir-lhe, a não ser para fazê-la rir dessa mancha das almas das pessoas que não são capazes de aguentar dizer simplesmente a verdade. Ela ria-se muito e ninguém percebia bem porquê, mas ela sabia era por isso que ria da mentira alheia. Também sofria, e ela sabia bem que o que diziam, que às vezes vale mais uma doce mentira do que uma dura verdade tinha alguma razão de ser. Apenas não percebia porque tinha de arcar sempre com as verdades, por muito duras que fossem, sem ilusões que lhe facilitassem a existência. Muito terra a terra por imposição da vida. A própria vida que lhe trazia os amores, destruía-lhe os mitos e as nuances cor-de-rosa que lhes tentasse imprimir. Por isso as suas paixões eram, invariavelmente, coloridas de preto e branco, num daltonismo nem sempre sustentável com a maior das levezas. Olfacto e tacto e visão e ouvidos e paladar muito muito apurados... Dotada de nascença com um sexto sentido altamente apuradísssimo, perigosíssimo e tristíssimo.

terça-feira, setembro 19, 2006

Longe/Perto?


Duas almas coladas
E a distância que se estendeu
Fê-las sentir abandonadas
Sem colo, canto nem céu

Mas, as sereias se escutares
Cantam aos ouvidos dos amantes
E basta reparares
Olhando as estrelas brilhantes
Para te lembrares
e em seguida esquecer.

A distância é um nada
Kms de terra gelada
E eu sou tua até morrer

O longe é já aqui
Onde eu vivo
Dentro de ti

Fome

“Mãe, tenho fome!”. Eu sei, eu sei. Coitado do puto, ainda não comeu nada de jeito hoje. Devorou um prato de sopa que devia ter quase uma semana, de certeza que estava azeda, e um naco de pão recesso e nem reclamou. São quase cinco horas, o melhor é dar-lhe qualquer coisita para lanchar, eu sempre posso enganar o estômago com um café e uns cigarros e depois logo se vê. Tenho massa e salsichas, faço um esparguete aldrabado para jantar. O orçamento está limitado, tenho 3 euros e o pai dele não aparece, aquele malandro, saiu de manhã e não disse ai nem ui, pouco me importa desde que traga dinheiro para alimentar o nosso filho, nosso é como quem diz, que ele é muito mais meu do que dele.
Este puto é bestial, nunca está triste e nunca se queixa. Até parece uma pessoa grande, está-me sempre a dizer para não fumar tanto e que gosta muito de mim. Chama-me mãezinha. Noutro dia é que não gostei, quando me disse que devia trabalhar. Trabalhar! Eu quero é que ele estude e se forme para ser alguém na vida e para que tenha da vida mais alguma coisa do que eu, que tirando a ele não tenho mais nada a não ser preocupações.
Quando choro à noite tentando abafar os soluços entre a almofada, não sei como é que ele ouve, mas ouve sempre e vem sempre Ter comigo. Pergunta se pode dormir comigo, eu digo-lhe que já não tem idade mas ele insiste, e eu gosto, claro que gosto de sentir aquele corpo pequenino dono de uma cabecinha tão grande, que ainda posso proteger. É o meu amor, o meu único e derradeiro amor...

A minha mãe ensinou-me a fechar os olhos e a imaginar que estou a comer exactamente o que me apetece. Neste momento, por exemplo, estou a comer um pão com manteiga e imagino o sabor de uma bola de berlim. “Mãezinha, não tens fome?”. A minha mãe come muito pouco, ela diz que não tem fome, mas eu sei que é porque não tem dinheiro. Ainda à pouco a vi contar os trocados que tinha para pagar o lanche e o café, baixinho mas eu ouvi-a. É tão bonita a minha mãe mas está muito magrinha, parece um periquito a comer e trabalha muito lá em casa. Anda sempre com uma tristeza qualquer no olhar, ainda não consegui decifrar a causa mas desconfio que seja pelo meu pai, que nunca está em casa e quando está passam o tempo a discutir. A minha mãe passa o tempo todo a chamar-lhe malandro, a dizer que não tem juízo e “livra-te de seres como ele, que me davas um desgosto!”. Eu quero dar muitas alegrias à minha mãe, quando trabalhar vou encher o frigorífico de comida, nem que seja para ela comer por não resistir à tentação. E vou comprar também um aquecedor que lhe aqueça as mãozinhas que são quase iguais às minhas, para ela não se queixar mais das frieiras no inverno e possa costurar à vontade.
Eu sei que o dinheiro lá em casa não é muito. Sou o mais magrinho e pequenino da minha turma mas não me importo. Além de que nunca passei fome a sério, isso não, a minha mãezinha não deixa, “nem que tenha eu de passar fome”, diz ela e é o que faz, que eu sei. Do meu pai é que não sei nada. Sai de manhã e às vezes passam-se dias em que nem põe os pés em casa, para desespero da minha mãe. Ela que já fuma tanto, nessas alturas então... e faz-lhe tão mal, “tu nunca toques num cigarro, ouviste? Por mim...”. Mãezinha, eu por ti faço qualquer coisa, mas fumar fazia de mim estúpido e isso eu não sou. Acho que devia trabalhar, afinal já tenho nove anos, e sempre ajudava alguma coisa, mas tu dizes sempre que não, “estás tolinho! vais é estudar e tirar um curso, vá promete”. Eu prometo, sim, gosto de estudar e aprender coisas mas...”mas nada. Vais estudar e acabou!”, diz ela.Às vezes, à noite, oiço a minha mãezinha chorar. Vou ter com ela e ela logo disfarça, “constipei-me”, mas eu sei que não está constipada, que está a chorar. Pergunto-lhe se posso dormir com ela, “não estás grande?”, não, e sei que ela gosta, abraça-me e embala-me como se fosse pequenino outra vez, e chama-me "“eu amor"” Às vezes sinto-me muito feliz, muito mais quando ela sorri porque também está feliz... A minha mãezinha fica tão bonita quando sorri!!

sexta-feira, setembro 15, 2006

O Portugal dos Pequeninos

O Caso Mateus

Há coisas que só em Portugal é "permitido" que aconteçam...

O jogador Mateus, coitado, e o Gil Vicente, coitado também, viram-se de repente envolvidos num imbróglio do qual não estariam certamente há espera...
Para mim, leiga neste assunto, o que está aqui em causa mais não é senão o pôr em causa o direito ao trabalho...


Recuemos - em 2003/04, o jogador em questão ecerceu actividade como futebolista profissional ao serviço do Felgueiras S.C. Na época seguinte renunciou a essa categoria vinculando-se ao Lixa como futebolista amador. Em termos legais teria que aguardar duas épocas desportivas para obter novamente o estatuto de futebolista profssional - norma desportiva designada Remadorização.
Bem isto não interessa nada. Os chicos-espertinhos do nosso futebol, na sua mesquinhez e refiro-me ao Belenenses, engendram planos para obter uma satisfação que não sei muito bem qual é pois o certo é que quem ganhou em campo foram os gilistas. Aos do Restelo cabia-lhes tão somente acatar a decisão de descerem de divisão pois não foram capazes de assegurar a sua manutenção. Ou então vinha também o Vitória e o Rio Ave reclamarem e já agora era mais lenha para a fogueira.
A nossa Liga, tão correcta que é, quando o clube de Barcelos recorreu ao tribunal cívil (que acabou por não lhe dar razão) ao invés de participar o recurso à Comissão Disciplinar, que se ocupa da disciplina desportiva, limitou-se a não fazê-lo e com essa atitude deixou que o "caso" assumisse as proporções que tomou, dada a sua incompetência.

Na minha modesta opinião o caso resolvia-se assim: ou desciam os dois e subia o Leixões ou então o Gil que lute com todas as suas forças e quiçá possa haver um novo caso Bosmann, diferente obviamente, neste portugal dos pequeninos.

Também sei que este caso se prende mais com aspectos financeiros uma vez que os directores do Gil Vicente deram avais ao clube em nome pessoal, mas contando com as receitas televisivas que deixarão de existir se o clube for mesmo obrigado a disputar a liga de honra.

Ao Gil Vicente digo que leve o caso até às últimas instâncias. O pior que pode acontecer é que sendo um clube desportivo se impedido de competir, ou não comparecendo aos jogos, deixará de ter existência.

Uma coisa é certa - um clube pequeno, num país pequeno que se julga grande, luta e dá a voz ao manifesto ( mesmo que no fim fique a cantar de galo)... E isso já ninguém lhe tira.
E, sinceramente, é de louvar que o que este país precisa é de uma revolução!!!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Inocência




O balão sobe e ri
Ninguém o vê
Mas uma criança sorri
Sem saber porquê

A felicidade dispensa a razão
Tem na paz sua existência
Dispensa justificação
Que lhe assegure sobrevivência

E a criança sorri
De felicidade
Vendo o balão subir
No crepúsculo da tarde


terça-feira, setembro 12, 2006

Quando for grande quero ser



Têm cara e corpo de meninos mas perderam parte da infância e da adolescência em nome das dificuldades que a vida madrasta os obrigou a enfrentar.
Foram obrigados a crescer prematuramente e a entrar com afinco no complicado mundo dos adultos, que apenas deviam acompanhar na condição que a idade lhes incute.
Mas não aconteceu, e o ciclo natural da vida sofreu uma inversão. Trocaram as bonecas, os carrinhos e a bola pelo suor de um trabalho que não lhes compete, ao qual se lançam como gente grande. Como TPC carregam o cansaço de dias compridos, mãos calejadas de trabalho como ganha-pão, o corpo marcado por uma sorte que não lhes sorriu à nascença.
Para ganhar dinheiro, claro. Sustento que não paga aquilo a que se vêem forçados a abdicar e tão pouco apaga os sonhos que continuam a entrar sem licença nos seus sonhos.
Pseudo-adultos, forçados a trocar uma adolescência pacata pelo ingresso nas tarefas de quem tem responsabilidades, como ajudar ao sustento da família.
Nem sempre é essa a razão. O trabalho infantil está hoje mascarado de múltiplas formas, que extravasam os usuais abuso na construção civil, ajudantes de sapateiro, etc, etc, etc...
Ver crianças de doze, treze e catorze anos a desfilarem em cima de uma passerelle, exibindo sem pudor o corpo ainda em crescimento, sujeitas a todas as imposições que o mundo da moda obriga e implica – não engordar, fazer exercício, treinar o andar... e ainda por cima a ganharem rios de dinheiro, por uma exposição que tem tanto de atraente como de passageira. Será que também isso não é trabalho infantil? Também essas crianças não se vêem obrigadas a crescer prematuramente, exibindo corpos e caras que aparentam quase o dobro da idade que têm?
O mundo da moda é muito complicado e cada vez mais os seus limites são difíceis de definir. Não se percebe, porque é um trabalho completamente visível, a diferença nem a falta de atitude. São meninos e meninas anormais em termos de crescimento adolescente, com a agravante de que expõem o seu corpo sem pudismo e sem protecção.
Que sistema é este que condena o trabalho de uns e consente o de outros se ambos são na sua essência iguais?!?

segunda-feira, setembro 11, 2006

Ontem... Hoje...




Ontem...
Será que eras mesmo tu?
Passeamos de mãos dadas
Descalços pela fina areia da praia
Olhamos a Lua e fizemos promessas
Para não deixar partir o amor que em nós fluía
Afagaste-me o cabelo e disseste "Adoro-te"
Eu apenas disse (Lembro-me tão bem)
"As estrelas brilham imenso, já reparaste?"
Sorrimos e molhamos os pés no mar gelado
Ao longe ouvia-se a viola do Pedro e da Laura
E muitas, muitas vozes a cantarem as “Dunas” dos GNR
Abraçamo-nos e partiste...

Hoje...
Não, não eras tu.
Tudo não passou de um sonho
Que me embrenhou como se fosse real
Aquele alguém que ontem conheci
(Por acaso muito parecido contigo)
Não deixaria o amor sentido
Ser levado pela brisa suave
E afogado pelas ondas do mar.
Caminho só, descalça pela praia
Enterro na areia, sim, a mesma onde
Tinha escrito uma singela (mas tão vã) promessa de amor
Esse alguém muito parecido contigo
A viola do Pedro e da Laura está longe demais para ser escutada
Deixo por inocência (ou fraqueza?) uma lágrima (talvez duas ou três)
Correrem pelo rosto
E parti...
Contigo mas sem ti.

sexta-feira, setembro 08, 2006

António Botto

[Quanto, Quanto Me Queres? – Perguntaste]


Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.


Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida…


Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar…

Não perguntes, não sei – não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

Impressão Digital - António Gedeão

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.


Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.


Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D, Quixote vê gigantes.



Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.



Detesto estar parada em frente a este computador a pensar em algo para escrever. É que já não o faço há tanto tempo…. Limito-me a ler coisas dos outros, pensar que um dia também eu escrevia coisas que as pessoas gostavam de ler e agora é só um vazio que me consome a alma e que congela o cérebro.

Às vezes gostava que estes meninos aprendessem alguma coisa comigo mas não me parece. O meu papel aqui é decorativo, quase passivo. De vez em quando ponho umas músicas que eles acham pirosas, quem sabe se no futuro não sussurrarão algumas palavras nelas contidas aos ouvidos das namoradas, não dessas que eles têm agora, mais tarde. Será que se lembrarão onde as ouviram? De qualquer maneira não me parece…


"Para sempre é sempre por um triz". Nunca tinha pensado no “para sempre” nestes termos. Para mim para sempre tinha de ser mesmo para sempre. Ou enquanto durasse, mas isso já era mais difícil. Só que até agora nunca foi, talvez até tenha estado lá perto, por esse triz em que se perdeu e nos perdemos.

Bucólica


BUCÓLICA

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento

De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra duma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga

Parir amor




Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Primeiro foi a palidez
Os sucessivos enjoos – meu filho como eu enjoava!
Confundiram-na com a calidez
Da minha face que se alterava…

Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Depois sentia-te dentro de mim

(E como era bom sentir-te! )
E eras parte integrante e sem fim
Dum ser que te amava
Antes de nascer…

Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Olho-me no espelho
Sim. Estou diferente…
Fisicamente porque uma barriga cresce,
Mas, principalmente, porque sou uma Mulher prestes a ser Mãe!

E agora Filho que do meu ventre saíste
E a ele não poderás mais voltar
Terás para sempre o meu colo
Que eu tenho sempre para te dar…
E embalar

Para toda a tua vida.



Trouxe um filho no ventre
Claro que estou diferente!

Estrela





O meu sonho não tem cor

Não tem vida sequer

É o meu desejo de viver

Que proclamo ao adormecer

Embalada pela dor



Ela tinha um nome, porque todos temos um nome quando nascemos, mas queria ver-se livre dele. O seu nome era Estrela.

Ela, a Estrela não gostava de si e, consequentemente, era difícil nutrir algo pelos outros, porque se repugnava em tudo o que dizia. Por vezes sentia uma certa comiseração por si própria, mas esses sentimentos não iam muito além disso.

Não se apaixonou. Vivia o dia a dia porque era esse o fardo que a vida lhe impôs. Um dos seus poucos amigos quando já farto fartinho das suas lamúrias dizia-lhe sem rodeios, friamente, para magoá-la: Mata-te. Magoava-a sim, porque naquele momento pensava na sua cobardia que travava a acção.

Era isso a vida para ela: uma espera indefinida.

À noite, antes de adormecer, não fazia planos, não agendava tarefas, não pensava no que vestia, não olhava para si. Olhava muito para os outros, projectava neles os seus desejos, a sua fé incondicional na raça humana.

As pessoas gostavam da Estrela - ela não compreendia porquê. A Estrela nunca lutou por nada, nem pela vida, quanto mais por ela. Esperava fazendo dessa espera o preenchimeto do seu vazio, o completo abandono nela e por ela.

Um dia a Estrela vai morrer, porque todos morremos um dia. Até lá, talvez se arrependa ou talvez lá se arrependa. Talvez se aperceba quão inútil e vã é a ausência de ter uma vida e de a viver até ao tutano. Talvez sinta a sua falta. Talvez deixe de sentir pena de si e passe a sentir ódio.

Pobre Estrela...

Esta dor não a larga. A Estrela chora a solidão que contruiu, chora um canto fatídico, premonitório... Aguarda... Nada de novo. Ai a cobardia. A Estrela chora porque quer morrer. Não!, ela não quer morrer. A Estrela chora porque não quer viver. É diferente. É a vida que ela despreza, a sua vida, não os outros, a dos outros, eles.

A Estrela quer morrer

A Estrela não quer viver

A Estrela não queria ter nascido

A Estrela queria desaparecer

A Estrela queria ser outro alguém

A Estrela está farta de si


Mas vive.

É alguém - é ela própria.


Um dia a Estrela encheu-se dela e mudou radicalmente, do oito para o oitenta, do dia para a noite. Completou-se. Apaixonou-se por alguém por quem por ela se tinha enamorado. Valorizou-se e deu valor à vida que tinha. Encheu-a e preencheu-a o mais que lhe foi possível. Enfeitiçou-se e estava feliz.


Depois entristeceu...





quinta-feira, setembro 07, 2006

Ai, ai os homesns e as mulheres....

Homens e mulheres são diferentes. Aparte as diferenças físicas, por si só tão evidentes, pensam de maneira diferente, agem de maneira diferente, têm modos de estar e de falar diferentes. Por isso, o tão proclamado feminismo não é mais do que uma tentativa forjada de combater o que à nascença o mundo, ou o criador, não fez de forma igaul. Não quero com isto dizer que não ache bem que as mulheres vistam as calças e tenham as mesmas condições de trabalho do que os homens, mas há que limar as arestas para não cair num extremismo exarcebado.
Não se sabe muito bem o que um homem procura ao certo numa mulher. Talvez a segurança que as mães lhe transmitem, qual complexo de Édipo mal resolvido. Dizem que as mulheres são complicadas mas os homens não lhes ficam muito atrás.
É difícil perceber o que um homem quer de facto - se uma noite bem passada ou um eventual relacionamento mais sério, ou tudo o que há nas entrelinhas entre esse oito e oitenta. E as mulheres confundem muito isso. Envolvem-se com mais facilidade, criam ilusões mais rapidamente e, quando a coisa dá para o torto, amarguram. Atristeza é mais feminina do que masculina, salvo raras excepções.
Os homens têm uma incrível predisposição para a traição, o que é mal-encarado e mal aceite pelas mulheres (não poderia deixar de ser, né?). Ou será que são as mulheres que sabem trair melhor, sem grande estrilho, pela calada? A traição é sempre um factor de desagregamento de uma relação, podendo mesmo destruí-la. Os homens não resistem a dar uma escapadinha, não se cansam de olhar para as mulheres mais vistosas, ainda que com a mulher que dizem ser da sua vida ao lado. Se se ficassem por aí não haveria problema. O problema surge quando eles passam à acção, tentanto aumentar o número de mulheres com que dormiram, como se isso os fizesse sentirem-se mais machos, como se isso fosse prova de alguma coisa.
Mas as mulheres também sabem fazer a vida negra aos homens com as suas constantes inseguranças e variações de humor, umas autênticas caixinhas de Pandora - nunca se sabe o que de lá vai sair quando se abre. Por isso, os homens têm que ser cautelosos, muitos sabem que estão a pisar terreno minado e há que ter cuidado para não deitar tudo a perder. Isto quando e se estiverem mesmo interessados. Porque se não estão nada disso importa.
Dizem que o fruto proibido é o mais apetecido e relativamente aos homens, alguns, parece que essa máxima encaixa na perfeição. É sabido que não há nada melhor para prender a atenção de um homem e manter o seu interesse do que uma mulher que se faz de difícil. Neste aspecto os homens parecem ser um bocadinho masoquistas - quanto mais se lhes dá com os pés mais eles correm atrás.
Claro que como em tudo na vida há homens e homens e mulheres e mulheres e a excepção não confirma nenhuma regra. Equilíbrio nos relacionaentos é a palavra chave. E deixar fluir o curso natural - como uma onda do mar que corre para o rio na direcção destes dois seres há-de correr algo muito forte.

Eu Sou Pela Selecção Nacional!!!


Não se vive sem futebol em Portugal. É um facto. Ninguém dispensa aquele calafrio no estômago que se sente sempre que o clube da nossa eleição defronta outro. Ninguém deseja mais do que tudo do que um fim-de-semana repleto de transmissões televisivas ou dos relatos de futebol, isto quando não é possível a deslocação ao estádio para ver in loco o clube que tanto nos faz vibrar.
Alguém descreveu a trilogia portuguesa como Fado, Fátima e, claro está, Futebol. Aparte os jogos da I Liga é quando joga a Selecção Nacional que os corações ficam ao rubro. Clubissices ao lado, todos se unem num só objectivo: ver os nossos "meninos" fazerem das suas com os pés que, às vezes, mais parecem mágicos e, se possível, ganhar.
Como há muito tempo não se via igual, Portugal e a sua selecção de ouro é temida pelos grandes da Europa e do Mundo. Já se viu que Portugal pode ir longe, pode encher de orgulho todos aqueles que vão torcer até às últimas consequências pela selecção, pelos "meninos" cheios de talento a aventurarem-se por voos tão mais altos. “Meninos” que quando jogam nos seus clubes não são brilhantes mas que integrados no conjunto nacional ultrapassam o brilhantismo – são profissionais à séria, lutam, choram, riem, vibram, dão-nos – a nós adeptos – uma alegria enorme que até de desculpa quando perdem, porque sabemos que dão tudo por tudo. Eu sei que somos todos treinadores de bancada, e o que escrevo é tão-somente o que sinto.
Resta esperar, mas com fé, com muita fé, ou como eu agarrada ao cachecol, atapar os olhos nos lances mais perigosos e a suspirar de alívio quando esses passam, sejam bons ou maus. E se não formos tão longe quanto o esperado pelo menos sabemos que tentamos, que eles, esses "meninos" deram o melhor de si e mais não conseguiram porque outros melhores do que nós não o permitiram. Há que ter a humildade em admitir que não somos os melhores do mundo. Mas para lá caminhamos, a avaliar pelo que nos tem sido mostrado, esquecendo alguns desaires, mas, pronto, são coisas que acontecem. Não podemos nunca ter a ousadia e a veleidade de nos acharmos, a priori, os melhores, imbatíveis, inderrubáveis. Porque não o somos e todos sabemos que no que toca ao futebol a sorte pode sempre ajudar um bocadinho quando aliada ao saber jogar, e isso os nossos " meninos" já têm.
Aos pupilos de Scolari cabe a difícil tarefa de não desiludir aqueles que neles apostam e que deles esperam simplesmente uma coisa: que façam o serviço o mais direitinho quanto for possível, perdendo ou ganhando.
Estou farta das tricalhices do nosso campeonato, devem ser únicas de tão mesquinhas que são, e por isso mesmo tomei uma decisão – deixo o meu coração bater e simpatizar pelo Benfica mas passo a ser adepta ferrenha da Selecção Nacional!!!

terça-feira, setembro 05, 2006

Tempos e tempos e tempos e tempos

"Um tempo", disse ele ou ela. Indeterminado. Pouco assimilado. Mal compreendido. Dificilmente acatado.
É sabido por todos aqueles que já passaram a experiência de lhes pedirem um tempo ou serem eles a pedir um tempo, que os "tempos" são o princípio do fim, fim esse que se vai arrastando num adiamento passível de gerar a todo o momento a ilusão que o "tempo" passe depressa e com ele a dor, ou pelo menos a vá acalmando, numa espécie de previsão antecipada de um fim desde o início previsto.

Primeiro pensa-se que tudo não passará de ausências passageiras às quais o corpo se irá aos pouquinhos habituando: do outro corpo, de carinhos, da voz, dos telefonemas. Quem pede um "tempo" sabe que vai privar o outro de tudo para depois, quando o tempo já não carecer nem aguentar mais "tempo" cortar o mal pela raíz.

Para quem espera a dor não diminui - prolonga-se e prolongar-se-á indefenidamente, coadjuvada pela esperança matreira que o ser querido(a) ainda vai reconsiderar e acabar por voltar, desculpando-se. Fazem-se filmes quando o sono teima em não vir - ele(a) voltará, é impossível que esqueça tudo porque passaram juntos, o quanto foram felizes, os sonhos que contruíram. Mas a todo o momento cerca-o(a) o mesmo vazio entre o frio dos lençóis: ele(a) já não está aqui. Mora no seu coração, é certo, e no seu pensamento, mas é um alojamento que se queria para sempre, isto é, enquanto houvesse amor ou enquanto não se consegue, por mais que se tente, expulsar o outro da nossa vida.

Esquecem-se, porque não compreendem, que por vezes há afastamentos que tal como o amor, a razão não é capaz de explicar - porque tais razões são desconhecidas. Apenas se sente. E o que se sente é uma vontade de estar só, de ter espaço, de não ter de dar satisfações, obrigações, de uma liberdade individual só alcançável pela abdicação do outro, Mesmo que ainda se goste, e às vezes gosta-se muito, mas tem de ser - e o que tem de ser tem muita força....

O "esperante" só pode pedir ao outro duas coisas: que o(a) livre desta doença ou que o(a) cure!

domingo, setembro 03, 2006

Os piratas já não moram aqui


Os piratas já não moram aqui
Viveram rápido e rápido passaram
Por entre a lua cheia e o céu vestido de um negro profundo

O mar já não se mexe, revolto de fúria à sua passagem
Enquanto eles riam desdentados
Na cara dos outros assustados

O vento forte não agita no mastro o seu estigma
Eles já não alteram a ordem natural do fluir da vida, ainda que imaginária

- Tudo passa neste mundo que nos arrasta até onde cansados já não queremos ir…

Vem uma nostalgia, um saudosismo antigo de tempos em que a bruma matinal resgatou à criança que ainda dormia…

Eu não vi nem tão pouco vivi nessa época em que os piratas ainda moravam aqui

O aqui e o agora

Falar sobre o futuro é debruçar-me no parapeito da utopia. Que futuro? O amanhã, a próxima hora, o próximo minuto, tudo que vai além do agora é absolutamente imprevisível. O passado já foi. O presente está a ser, o futuro será o que tiver de ser. Não devemos viver angustiados com nenhum desses tempos até porque não são controláveis.
Quando saímos do ventre materno nasce connosco uma estrada, cheia de curvas, contracurvas, intersecções, rotundas, caminhos, cruzamentos e! sem qualquer tipo de indicação. Resta-nos percorrê-la. Não há nenhum retorno uma vez escolhido um caminho. Podemos muitas vezes parar num beco escuro, aninharmo-nos e até chorarmos por não ver qualquer saída. Mas levantamo-nos, damos passinhos pequeninos e por fim uma luz que nos tira de lá. E outro caminho nasce…
Claro que o futuro assusta estando ele, umbilicalmente, ligado ao crescer. Quando mais nova falava do futuro equivalia a falar de mim adulta, imaginando-me a viver essa vida neurótica dos crescidos que ia observando. Crescer implica uma série de coisas, mas de forma alguma será sinónimo de abandonar os sonhos que nos comandam a vida mas antes lutar a fundo para os tornar realidade.

Querer

Diz uma canção que “querer muito é poder”. De certeza que ainda te lembras, acho que gastámos o cd de tanto a ouvirmos, a melodia que nos entrava alma dentro sem pedir licença e as palavras para sempre gravadas em mentes por vezes excessivamente racionais.
Eu sei, e tu também deves saber, que à música que cantávamos de cor só faltava um pequeno pormenor. Para poder de facto é preciso fazer. A passagem ao acto e a luta pela igualdade no mundo desigual é naturalmente difícil.
É fácil, bastante mais fácil, acomodarmo-nos, deixar que a luta que nos pertence ser tomada por outros, se bem que depois não saibamos lidar com essa perda. E as palavras são feitas de matéria etérea, “leva-as o vento”, não é?
Nascer, crescer, morrer. Este é o ciclo natural da vida, com o qual somos confrontados (mal) saídos do ventre materno. O tempo ensina que essa ordem pode ser facilmente invertida, tudo pode fugir num instante que temos de agarrar com todas as forças, pelo menos com todas as que dispomos, ás vezes superarmo-nos, resmungar com o corpo cansado que nos diz que já não aguenta mais, desafiá-lo, explorar os limites. Tudo é permitido quando é o nosso destino que está em jogo, ou a nossa felicidade.
A compensação? Por vezes basta um sorriso. E todo o esforço se contrai num só pensamento: quis muito, fiz mais e consegui. Então podes cantarolar novamente a musiquinha com a sensação que és parte integrante dela e que ela foi deita a pensar em ti....

sábado, setembro 02, 2006

Será que ainda te lembras?



Será que ainda te lembras dos beijos que trocávamos, no final das aulas, quando me levavas a casa, ciumento que eras, porque sabias que se não fosses tu outros se ofereceriam e tu não gostavas dessas partilhas, porque, justificavas, esses momentos eram só nossos. Tão nossos que às vezes penso que o tempo, que nessa altura corria apressado mas que nos entretantos parece ter parado, os conservou, lá onde só o pensamento ansioso de lembranças doces consegue alcançar e recordar.
E eu, chegava a casa sempre atrasada para o almoço, ouvia um raspanete da minha mãe, admiradíssima com o ar de felicidade estampado no meu rosto, que ela não compreendia, e como poderia se não sabia que esses minutos que me esfriavam o prato eram os mesmos que me aqueciam o coração.
Será que tu ainda te lembras desse Inverno gelado, quando caminhávamos vagarosamente sobre a chuva, num único chapéu, o meu, que eu bem sei que tu fazias de propósito por te esqueceres do teu para te colares a mim e dizeres que o meu cabelo cheirava bem. Eu também fazia de propósito por me esquecer das luvas para me queixar do frio para que tu me aqueceres as mãos.
Tudo feito como se tratasse de uma promessa velada, selada em beijos escondidos, de uma pertença que acreditávamos ser eterna mas que não foi.
Lembraste? Eu nunca me esqueci do cheiro das folhas que caíam no chão enquanto a minha felicidade se elevava ao céu...

sexta-feira, setembro 01, 2006




Na areia da praia escrevi
Os meus ideais com um pauzinho
E o mar que se aproximava devagarinho
Subitamente os apagou

Assim como a minha alma
Que coloquei na mão
E a brisa serena
Bruscamente levou…


e tudo isto me faz recordar aquela musiquinha


"o mar enrola na areia
ninguém sabe o que ele diz
bate na areia e desmaia
porque se sente feliz

O mar também é casado
O mar também tem filhinhos
É casado com a areia
E os filhos são os peixinhos..."


Sempre é melhor que a floribella não?

A TV QUE TEMOS

O “LIXO” QUE COMEMOS...



Há muito que os princípios e critérios televisivos deixaram de ser comandados pelo reconhecimento do direito aos espectadores à informação e a uma programação que visasse o cumprimento de um serviço público, ou seja, entreter, informar e educar.
É indiscutível, porque abusivamente visível, que a lógica comercial se entranhou no espírito dos responsáveis televisivos e que são as audiências que marcam o compasso programativo das estações.
Para prejuízo nosso, nem a RTP escapou. E a televisão que temos é aquela que nos dão, porque sabem que as alternativas são parcas e que de uma maneira ou de outra a decisão penderá para um qualquer programa.
O boom deu-se quando estreou a novela da vida real, transmitida em directo da casa mais vigiada de Portugal, elevando a TVI a níveis de audiência que nem sonhava alcançar, num terreno que mais parecia totalmente dominado pela soberania da SIC.
Atreva-se a passar um dia à frente da televisão – a verdade visível e triste é que não há pachorra para tanta falta de respeito pelo consumidor. Inundam-nos com telenovelas atrás e telenovelas, reality shows, pausa para os telejornais, mais telenovelas, e quando já se começa a fazer tarde para quem trabalha e tem de se erguer cedo, lá começa um filme jeitosinho, um debate interessante, uma série fenomenal, que não se vai ver, que o vai privar do melhor momento que esperou durante todo o dia.
Já para não falar das constantes alterações na programação, adiamentos de programas e filmes agendados. Tudo por causa das audiências. Tudo porque as estações televisivas em vez de se preocuparem em oferecer produtos de qualidade estão sempre de olhos postos no vizinho, sabendo que isso só prejudica os espectadores, stressa-os quando o que se quer é relaxar.
Continua-se a zappar entre os três canais monopolizadores (salva-se a RTP 2, que não aderiu a este regime ditado pelos shares e que ainda nos presenteia com alguns programas de qualidade)... cada vez menos inovadores e sem carimbo de qualidade que os valha.
Há ainda a TV Cabo, que como se sabe ainda é privilégio de alguns. Pese o facto de também ela já começar a entrar numa lógica comercial, nomeadamente de publicidade...
O melhor mesmo é, em vez de estar a cansar a vista com “lixo” que não é obrigado a comer, pegar num bom livro e deliciar-se com a qualidade da escrita. Ou ouvir música, ou mesmo dar um passeio.
Há ainda a TV Cabo, que como se sabe ainda é privilégio de alguns. Pese o facto de também ela já começar a entrar numa lógica comercial, nomeadamente de publicidade...
O melhor mesmo é, em vez de estar a cansar a vista com “lixo” que não é obrigado a comer, pegar num bom livro e deliciar-se com a qualidade da escrita. Ou ouvir música, ou mesmo dar um passeio.
Por isso deixo-vos duas sugestões capazes de abrir o “apetite”, atendendo aos seus condimentos literários, alternativas a uma azia quase certa: “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera, “O Amor em Tempos de Cólera””, de Gabriel Garcia Marquez ou até mesmo “O Principezinho” de Antoine Saint-Exupéry. Se ousarem a troca, digam-me qualquer coisa...

quinta-feira, agosto 31, 2006



A rosa vermelha voava
Nos sonhos eternos
Amores serenos
Que seu cheiro tocava

Tinha na cor a dor
Do amor dos amantes
No trago do seu sabor
Deixava-os distantes

Sempre persente
Como que a flutuar
A flor, a cor, o aroma
Duas mãos que acabam de se tocar
Um sentimento que se retoma

Sela um beijo
Guarda um desejo
É do amor, a rosa.
Afasta a dor, seu cheiro

Guarda-a por inteiro!!!

Sobre a condução....



Cada vez se morre mais nas estradas em Portugal – é um facto. O porquê só a Deus pertence, porque as estradas continuam as mesmas, graças ao governo que temos (pode ser que agora qualquer coisa mude), os automobilistas é que vão mudando.
A permissão para tirar a carta de condução aos dezoito anos é muito questionável. Os miúdos que se apanham pela primeira vez com um carrito na mão têm a monomania de se julgarem uns autênticos "fangios", vá-se lá saber porquê, mas a verdade é que se julgam uns ases ao volante de um super potente carro. Não têm capacidade para avaliar o que realmente têm em mãos nem a que velocidade moderada andar. Moderação é palavra que não entra nos seus dicionários de jovens aprendizes na arte da condução. O que importa é por o pé no acelerador e dar graças a deus por estar vivo enquanto se vangloriam de terem feito aquela curva a cem à hora só para impressionar os amigos que ficam mas é com um cagaço que juram nunca mais andar nas mãos daquele maluco.
Aos dezoito anos ainda se é muito pequenino. Principalmente se se é rapaz. Está provado que as raparigas são mais prudentes a conduzir. Ter dezoito anos deveria, por isso, ser só isso – ter dezoito anos. A carta de condução viria mais tarde, quando houvesse mais consciência dos perigos que representa pegar num automóvel e pô-lo a deambular pelas estradas do nosso país.
A bebida é outro motivo dos acidentes terem disparado. Conduzir embriagado representa um autêntico perigo não só para os que o fazem como para os restantes automobilistas. Só porque nos apetece bebemos uns copitos a mais na companhia dos nossos tão simpáticos amigos e depois as coisas acontecem e fica-se muito surpreendido. O principal defeito de quem bebe é o de não ter a noção do quanto bebeu nem admitir o estado em que se encontra. Depois é uma aventura pelas estradas e com alguma sorte no meio daquele mar de ondas de alcatrão chega-se a casa são e salvo, o que nem sempre acontece.
Conduzir com sono é igualmente perigoso. Ou sob o efeito de estupefacientes, sejam eles drogas ou meros comprimidos para uma dorzita de cabeça. Outra moda agora é a das apostas feitas em conduzir contra a mão.

Na sequência deste texto, gostava de tecer uma opinião sobre o anúncio das criancinhas que sobem ao avião, e cujo intuito do mesmo é apelar à redução da velocidade.

Enquanto anúncio, se não tivesse nenhuma voz, está bem feito. A mensagem que passa não. Nem todos a entendem – aquela metáfora não é entendida á primeira, e muitas vezes nem à segunda e eu não me considero assim tão burra para não o entender há primeira – é infeliz, infelizmente, passe a redundância. Até porque se o intuito é chocar, usar as crianças não me parece o melhor caminho. Não são as únicas a morrer... e não me parece que este anúncio/apelo da forma como está feito venha a alterar alguma coisa...
Mas a maior hipocrisia vem, na minha opinião, na parte final em que o ministério da administração interna apela à redução da velocidade. Questiono - não é esse ministério o responsável pelas estradas que temos? Há pessoas que mesmo devagar morrem porque o nosso país não possui estradas, via-rápidas em condições - sobretudo no norte, sem falar no ip4. Eu que conduzo e sei de cor uma via rápida que liga Guimarães a Fafe e vice-versa tenho de ir com cuidado, porque ela é muito traiçoeira. Mais, recordo-me que quando foi inaugurada eram só faixas pretas penduradas de pessoas a quem estrada ceifou a vida, pois dá a ideia de que se pode andar relativamente à vontade quando as curvas são extremamente perigosos e as próprias rectas também. De noite chego a ligar os máximos e como já referi conheço-a de cor. Por isso penso que o Sr. ministro, António Costa, antes de promover este anúncio, que nada vem acrescentar, deveria meter as mãos na consciência e fazer um outro talvez "pedindo desculpa pelos transtornos causados e mortes pelas nossas estradas que nem sempre estão nas melhores condições de serem utilizadas, prometendo criar mais e melhores infra-estruturas aos condutores" - digo isto em tom irónico mas onde anda esta gente com a cabeça?

sábado, agosto 26, 2006

Quando o campeonato começar o melhor é desligar

Ainda mal entrados no Campeonato de Futebol Nacional e as querelas já se multiplicam. Talvez ainda antes, se recuarmos à pré-temporada. É sempre, sempre a mesma coisa - o Benfica é o campeão dessa época de preparação, o Porto já é campeão, como se fosse um destino, e o Sporting é como sempre. Este ano aparte o treinador dos leoninos, os restantes causaram grande celeuma no seio dos seus adeptos. No Engenheiro têm pouca fé, como se ele não percebesse nada daquilo. O Jesualdo até faz os portistas pensarem em mudar de clube pois o professor foi dos encarnados. Não percebo. Sei uma coisa – os portistas não são portistas, são anti-benfiquistas e disso não tenho o menor resquício de dúvida.
Chovem as críticas – as águias estão a testar esquemas tácticos e não vão a lado nenhum, é melhor resignarmo-nos. O problema do Benfica sempre esteve na defesa e na falta de reacção perante resultados adversos (haverá excepções, claro). E nunca teve dentro de campo um verdadeiro líder. Daqueles que me recordo, o Neno sempre que era canto era também golo na certa. O belga Preud´Homme, já veio entradote, longe dos tempos áureos em que foi considerado o melhor guarda-redes do mundo. Entre o Morretto, o Quim e o Moreira, sinceramente não sei. Sozinhos também não fazem milagres. O único que os fazia (entre aspas) era aquela jovem aspiração agora confirmada de seu nome Enke, que mais uma vez o Benfica deixou escapar. O Benfica ou manda embora os bons, e que por sua vez o Porto repesca e transforma em óptimos, ou prende os que podiam constituir uma carreira internacional – por ex. o menino doiro de seu nome João Vieira Pinto.
O Porto tem sorte. Tem, pronto. Tem boa capacidade de finalização, tem um bom guarda-redes, tem bons jogadores. Tem uma boa gestão. O Papa anda nisto do futebol há muitos anos e sabe (???) o que faz, com aquele som monocórdico e rosto inexpressivo com que faz as suas declarações. Teve grandes líderes – João Pinto, Aloísio, Jorge Costa. Teve o Fernando Couto. E teve acima de tudo o Mourinho, convenhamos....O Sporting é a melhor escola de aprendizagem. Depois do Boloni catapultar os mais jovens para a equipa sénior, os restantes resolveram seguir-lhe o exemplo, e não se estão a dar mal. Gostava do Schmeichel – berrava com os defesas, impunha ordem. Não sei o que se passou na cabeça do Paulo Bento quando escolheu os capitães de equipa – até porque o Moutinho não me impressiona por aí além, como jogador.
Se prognósticos só no fim, posso só acrescentar que a pré-temporada é diferente do campeonato que por sua vez é diferente das competições internacionais.
Dou o benefício da dúvida ao Fernando Santos, de quem fiquei a gostar um pouco mais. O sistema defensivo é que tem de funcionar melhor. Ao Sporting, que não encha já o peito de esperanças e o Porto que não dê como certa a conquista de mais um troféu.
Mas cá entre nós... Se o Super Mário recuperar a Forma, ainda vamos ter um Beira-Mar Campeão!...

sexta-feira, agosto 25, 2006

TOLERÂNCIA E RESPEITO


A tolerância e o respeito têm muito que se lhe diga. São dois valores cada vez mais em desuso na sociedade actual, onde as pessoas vivem stressadas, imbuídas no seu próprio ser sem tempo para dedicar aos outros e sem paciência para tal.
Por vezes custa muito sermos tolerantes quando esperamos pelo autocarro que está vinte minutos atrasado, quando a pessoa com quem falamos nos irrita solenemente, enfim, são várias as ocasiões em que nos é exigido sermos tolerantes e que nos custa muito a sê-lo efectivamente.
A tolerância é uma espécie de paciência para com alguém que levada ao extremo se pode transformar em indiferença. É um valor que nem sempre é fácil de cumprir e que é fácil não cumprir, mas que está sempre presente ao longo do nosso dia a dia. Resulta da convivência que se quer pacífica com os outros, que nem sempre são alvo de uma cuidada atenção e compreensão. A intolerância resulta de uma falta de tempo para com os outros - para os compreender, para os tentar perceber, para dedicar-lhes alguns minutos de atenção que se quer mais especial.
Podemos dizer que, por natureza, todos somos um pouco intolerantes porque todos somos um pouco egoístas. Nem sempre é fácil desligarmo-nos do nosso umbigo e olhar para os outros na tentativa de os compreendermos. Porque partimos do princípio de que primeiro estamos nós e o nosso bem-estar e só depois os outros. Mas os outros são parte integrante do nosso mundo, dão-lhe um sentido – não vivemos sozinhos e tal como dependemos dos outros para que nos ouçam também eles requerem da nossa ajuda quando se dá o inverso. Podemos nem sempre estar para aí virados mas devíamos estar.
O respeito é outro valor que tem a ver com os outros embora parta de cada um de nós. O respeito é um preocupar-se com, é um tomar em consideração, é um acto de amor – só há amor quando o respeito se instala pois não é possível amar sem respeitar o outro e vice-versa. Tal como nos respeitamos a nós próprios assim devemos respeitar os outros.
De certa maneira, respeito e tolerância aparecem interligados. Ambos são um ter em atenção os outros, dedicar-lhes atenção, compreendê-los, ou pelo menos tentar fazê-lo da melhor maneira, que é a como gostávamos que fizessem connosco. Partindo do nosso eu é possível encontrar a melhor maneira de tratarmos os outros.
Sem o respeito e a tolerância, dois valores constituintes do estado democrático, a anarquia instalar-se-ia facilmente sob múltiplos aspectos e é isso que se tenta evitar promovendo valores tão fundamentais como o são os anteriormente referidos

quinta-feira, agosto 24, 2006

Como água para o vinho


A Maria tinha ar de gata, pequena, magra, delgada, ágil, esperta, com aquele olhar reguila. Parecia sempre pronta a mostrar as garras, agressiva e serena, tal era o seu estado de espírito. Dizia que não tinha “papas na língua”, chamava insensato ao mundo e ria-se da sua hipocrisia. Ria-se muito. Quem gostava da Maria venerava-a ou, então, não a suportava de todo. Mas era o seu ar doce que cativava e as palavras incisivas que proferia que faziam não querer sair do seu lado. A Maria era um encosto fácil e confortável, turbilhão de mares. Fez da sua vida exactamente o que queria ter feito, salvo raras excepções. Mas dizia que não. Não que se queixasse ou lamentasse - a Maria tinha saudades do passado e tinha recordações mas dava-lhe muito mais prazer sonhar, sonhar com o futuro e viver o presente. Por isso é que todos, tão diferentes dela, se deliciavam com a sua oratória e os seus longos silêncios, que nos momentos mais críticos logo indicavam que algo corria mal. Diziam que era só treta, sem conhecimento de causa - “Ah! essa Maria, candidata a filósofa.”. Qual quê, a verdade - “Ah! essa Maria, filósofa de facto!”, pois que é a filosofia senão a vida, escrita, falada e pensada!? A Maria era anormalmente comum mas ordinariamente diferente. Falava, enganava-se, chorava, ria, errava, caía, levantava-se, sorria, chorava e falava. Nunca fugia aos sentimentos e talvez tenha sido a franqueza dessa sinceridade que a fez sofrer o desgosto de amor, o qual nunca referia, até porque, achava ela, de uma maneira ou de outra, todos nós já sofremos por amor e todos nós já sofremos de amor. A grande diferença nesse ponto comum são pequenos pormenores sem importância que o destino de cada um se encarregou de alterar. Parecia quase perfeita a Maria, mas humana como os de resto. Houve quem chegasse a duvidar que existisse e fosse ilusão, alento que os tornava melhores, consciência a correr para uma sensatez perdida. Simplesmente Maria, como uma luva sedosa que encaixa perfeitamente na mão fina e branca.




A Marta era a melhor amiga da Maria. Completamente diferentes, como água e vinho, dia e noite, luz e escuridão. Praticamente da mesma idade mas abismalmente distintas em tudo o mais. Marta era loira, a pele clara cobria um rosto sereno com uns grandes olhos cor de mel que denunciavam qualquer emoção. Muito franca, muito indecisa, muito pouco determinada e muito muito desorganizada. Conheceram-se na faculdade, logo no primeiro ano de Direito, nessa cidade de encantos que é Coimbra e a empatia entre ambas estabeleceu-se desde o início. Mais do que simpatia um sentimento de carinho, protecção e amor incondicional desse que só a amizade é capaz de dar conta e de eternizar para o resto da vida.
Pouco sociável a Marta, preferia longos silêncios a ser impelida a participar em debates e conversas em que forçosamente era obrigada a dar a sua opinião. Muito insegura, cheia de não seis, fugia a sete pés de tudo aquilo que implicava tomar partido, tomar decisões. Muito indecisa, cheia de pezinhos de lã para não magoar os outros mesmo que quem tivesse de sair magoada fosse ela quando calhava ouvir o que não gostava. Mas nem por isso caia no erro fácil do "olho por olho, dente por dente" e já que disseste isso ora fica-te com esta! Não era esse o seu estilo, a não ser que dissessem mal de alguém muito querido, como da Maria por exemplo. Aí tornava-se uma fera, mostrando todas as suas garras e unhas e dentes e tudo o que fosse preciso. Muito fiel, cheia de convicções românticas da vida que pintava de tons cor de rosa bebé. Quase etérea, alma que vagueava pela vida dos outros quase imperceptivelmente mas que tornava a vida mais leve, liberta de constrangimentos castradores da felicidade. Quase feliz, cheia de uma tristeza cheia de nada que enchia os seus olhos grandes no rosto distraído por essa luz que vinha não se sabe de onde nem porquê mas que inundava os demais.






domingo, agosto 20, 2006


A mulher (especulações)

A mulher não devia ter mais do que 35 anos. Talvez fosse mais nova, mas o cansaço estampado no rosto denunciava uma idade aproximada à especulada.Estava exausta a mulher. A cada paragem do metro estremecia o corpo e abria os olhos de um sono sobressaltado que era mais forte do que ela. Mexia no cabelo, trocava a perna, dava duas voltas ao pé e retomava o sono inquieto.Era casada, o anel denunciava-o, com dois filhos a mulher e, talvez por isso, se entregasse tão facilmente à sonolência, adivinhando desde logo o que tão bem conhecia - o carinho que ainda teria de dedicar à família também ela exausta após mais um dia de escola e trabalho.A mulher devia trabalhar muito, começava de manhã, num café, provavelmente, e acabava o turno tarde. Eram sete horas da tarde quando se encontrava no metro, com destino à Pontinha, na periferia de Lisboa capital.Devia ter sido a moça mais bonita do bairro, casou-se com o moço mais bonito também e que mais a amava, por volta dos dezoito anos, quatro depois de ter deixado de estudar para trabalhar num mercadito qualquer a fim de ajudar a família. A mesma família que desde cedo lhe deu conhecimento de que a sobrevivência é um caso muito sério e que desde cedo lhe incutiu a ideia de que a luta por uma estabilidade económico-financeira exigia muito trabalho.Agora mulher, as dificuldades não paravam de persegui-la - continuava a trabalhar muito, como sempre tinha feito, para com o marido tomar as rédeas do sustento da casa, dos filhos, aos quais nada deixava que faltasse, dentro do possível.Dormitava a mulher e abria os olhos estremecida a cada paragem do metro, mexia no cabelo, trocava de perna e dava duas voltas ao pé. O rosto cansado deixava transparecer a beleza de outrora mas também a embaciava. tinha-se de prestar atenção.Exausta a mulher, quase a chegar a casa, aos dias iguais, a lutar pela vida e pela sua família, a fazer-se a ela todos os dias, com todas as suas forças.A luta contra as dificuldades da vida e pela sobrevivência económico-financeira, pelos estandos de felicidade é um caso muito sério....

Quanto vale uma experiência?

Pertenço ao clube dos que não têm emenda. Aqueles para quem o tempo não é sábio nem conselheiro, que aprendem népia com a experiência. É triste mas é verdade.Dizem que aquilo que nos faz sofrer tem geralmente a vantagem de ensinar qualquer coisa. A não voltar a repetir os mesmos erros, partindo do princípio que não queremos cair na mesma desgraça. Quanto a mim só posso dizer que volta tudo à estaca zero. É sempre a primeira vez. Estou sempre a desaprender, ou não chego a aprender nada, porque tenho esta capacidade incrível de esquecer tudo numa fracção de tempo que pode durar...cinco minutos. Mas quando me dói, dói a sério. Juro que é a última vez e que a partir de então tudo será diferente e nada voltará a ser igual. Não consigo determinar o espaço de tempo compreendido entre uma lágrima e a entrega a um novo sorriso, mas é sempre surpreendente. Sem dar por isso estou novamente a mãos com promessas gastas, que sei à partida nunca levar à avante. Choro mais um pouquinho até que a dor disfarçada de felicidade entre novamente na janela da minha alma, e entrego-me a ela com o fulgor de uma inocente. Disfarço bem os “calos” que me doem quando caio, e deixo-me levar por instantes que nunca compensam. Há quem diga que “vale sempre a pena quando a alma não é pequena” e eu cá acho que devo ter uma alma do tamanho do mundo. Nos intervalos de tempo sou capaz de ser feliz, de estar feliz. Mas é um radicalismo difícil de sustentar.A sucessão de dias e noites no encalço de tornar-me mais normal, se é que há um padrão para essa denominada normalidade, não mais resultam que em noites mal dormidas, olheiras acrescidas e pouca concentração diária.Também há quem me chame ingénua. Isto de tentar ver o lado bom e belo das coisas chama-se agora inocência. Ninguém diria que sou caranguejo de signo, tal é a minha incapacidade de andar de pé atrás...Mas é assim. Não tenho remédio e não encontro nenhum para resolver isso. Por isso, vou conjugando pessimamente o ambíguo estado que é o de viver todos os dias como se fosse a primeira vez.

O que tem de ser tem muita força