sábado, janeiro 12, 2008

O que o tempo desfocou

Parece que se passou muito tempo. Tanto tempo que já perdi os contornos do teu rosto e tudo o que me resta é uma imagem desfocada que me recorda fugazmente o que foste. Deixei de te saber de cor. Deixaste de ser o mesmo, pelo menos como te conheci e agora não reconheço.
Este tempo deve-te ter alterado. Alterou-me a mim ou antes retomei a minha vida sem contar contigo. Custa mas é possível. Racionalmente tento compreender o sucedido, embora sem fazer grande esforço porque há coisas que escapam ao entendimento, e a ferida aberta já começava a ser profunda. Tratei dela, continuo a tratar. Já não sangra, mói mais do que dói.
Talvez um confronto directo, que não desejo, me ditaria a verdade mas não anseio ver-te ou rever-te de novo. Não é isso. Mas no tempo em que convivemos mais assiduamente tomei uma parte de ti que começou a ser uma espécie de espelho de quem fui quando estávamos juntos. Não foi muito tempo. O suficiente.
Por mera curiosidade pergunto-me se estarás bem, se estás feliz. Ainda ontem te ouvi mas não te ouvia verdadeiramente. Porque estás desbotado. Mas não guardo qualquer resquício de rancor. Foi como tinha de ser e quando teve de ser. Foi tempo. Foi o destino ou o seu primo direito - o acaso.
Foi depressa. Foi abrupto. De repente enchias-me de promessas, outras faziamos planos. Sempre consciente que os fazíamos no campo do não realizável. Sonhos e esperanças que se desfizeram nas ondas de um mar salgado que certo dia correu sobre o meu rosto.
Este revivalismo é uma introspecção, vazio de significado sentimental. Não são saudades. É o acordar para a realidade. Para voltar ao dia-a-dia. Para usufruir de tudo o que esse dia me possa oferecer. Com mais uma experiência, mais um rosto e mais alguém que deixei entrar na minha vida de portas abertas mas que já não faz parte dela. E , inexplicavelmente, sinto um certo alívio. Respiro melhor. Inspiro e expiro este elixir que é a mágoa misturada com a força de viver.
Talvez sejam saudades de mim. Desse tempo recente em que acreditava e me enchia de esperanças. E depois enchia-me de tristeza. Insustentável.
A vida trocou-me as voltas e a única saída era afastar-me de ti. Quando me começaste a fazer pior do que melhor. Não quero ser radical. Não sei ao certo como será mas imagino pois apesar de ter passado pouco tempo sinto que consigo prever nas entrelinhas o desfecho. E já não quero mais. Estou cansada. Posso estar errada. Posso não estar. O coração diz-me que não será muito diferente do que imagino. Eu ouço-o.
Só para te dizer que não és reflexo de mim. Que hoje pensei em mim e por acaso em ti....

segunda-feira, janeiro 07, 2008

De olhos semi abertos


" Será que o mundo, que arranja sempre maneira, um dia me descobrirá?" - por vezes questiono-me. Não me fecho ao mundo. Vivo nele e sou sua parte integrante. Se me perco é porque os meus olhos não conseguem focalizar bem o essencial, o que até é normal. Não ando com eles fechados. Não durante o dia, não enquanto desperto para a vida. Estará ele zangado? Ou é uma reconciliação à vista ainda que eu não a vislumbre?...
Diz-se muitas vezes que um ser sozinho não é completo. A solidão é boa quando desejamos ter esses momentos só nossos. Mas sou um ser social, não me encerro em nenhum castelo qual Rapunzel. E já não tenho idade para acreditar em princípes encantado, nem as tranças.
Não é só no amor que questiono se me descobrirão ou se eu descobrirei alguém. Em todas as facetas da vida. Ser-se só não é um estdado de graça. Estar só porque se precisa é muito diferente.
Deixei-me de alguns radicalismos que primavam a minha dolescência, amoleci noutros aspectos, endureci nos restantes. Como se estivesse a cozinhar e a juntar todos os ingredientes, o resultado é a minha pessoa. Deve-me ter escapado algo. Ou não. Não importa.

Das cinzas levantei as asas e voei


Sinto-me uma Fénix que das cinzas renasceu e pode iniciar, melhor - dar continuidade novamente à sua vida. Porque a vida por vezes tem destas coisas - pára por instantes, dá-nos um colo onde dormimos e quando acordamos sabemos que temos de continuar. Mau grado os arranhões que ela nos possa causar há que tratá-los e levantarmo-nos de novo ainda que morrendo por dentro.
Não se inicia uma vida porque há todo um passado que não se pode apartar dela. São insígnias que nos acompanham ainda que nem lhes prestemos atenção, estão lá e fazem parte do que nos tornamos. Eu sou o que sou, fruto do que já vivi e com sede do que terei para viver. Sou em crescente aprendizagem. Sou sendo eu mesma com os traços de personalidade já marcados, sabendo o que quero e o que não quero. Ou mais ou menos. É raro termos certezas absolutas pois o mesmo seria dizer que os dias que se sucedem nada de novo nos podem trazer de frutífero ou não. Tenho certezas de algumas coisas. Todos temos. Mas em relação à vida só há uma - que um dia, não sabendo como nem porquê a morte chegará. As outras estão sujeitas a mudança.
Num ano que se inicia tudo poderia ficar igual. Tudo pode ou não. Neste campo mais pessoal eu não quero que fique tudo igual.
Entrei em auto-combustão. De noite morri. Acordei com o sol a bater-me nos olhos sem pedir licença e regressei. Sigo ou tento seguir em frente. O caminho desconhecido, a estrada, as curvas, as intersecções que me esperam e que desconheço. Sem medo. Com medo ficamos na encruzilhada. Ou enterrando o medo, se for caso de o ter, no fundo mais fundo de mim. Para que não me estorve nem me canse nem me impeça de continuar.