Quando o campeonato começar o melhor é desligar
Ainda mal entrados no Campeonato de Futebol Nacional e as querelas já se multiplicam. Talvez ainda antes, se recuarmos à pré-temporada. É sempre, sempre a mesma coisa - o Benfica é o campeão dessa época de preparação, o Porto já é campeão, como se fosse um destino, e o Sporting é como sempre. Este ano aparte o treinador dos leoninos, os restantes causaram grande celeuma no seio dos seus adeptos. No Engenheiro têm pouca fé, como se ele não percebesse nada daquilo. O Jesualdo até faz os portistas pensarem em mudar de clube pois o professor foi dos encarnados. Não percebo. Sei uma coisa – os portistas não são portistas, são anti-benfiquistas e disso não tenho o menor resquício de dúvida.
Chovem as críticas – as águias estão a testar esquemas tácticos e não vão a lado nenhum, é melhor resignarmo-nos. O problema do Benfica sempre esteve na defesa e na falta de reacção perante resultados adversos (haverá excepções, claro). E nunca teve dentro de campo um verdadeiro líder. Daqueles que me recordo, o Neno sempre que era canto era também golo na certa. O belga Preud´Homme, já veio entradote, longe dos tempos áureos em que foi considerado o melhor guarda-redes do mundo. Entre o Morretto, o Quim e o Moreira, sinceramente não sei. Sozinhos também não fazem milagres. O único que os fazia (entre aspas) era aquela jovem aspiração agora confirmada de seu nome Enke, que mais uma vez o Benfica deixou escapar. O Benfica ou manda embora os bons, e que por sua vez o Porto repesca e transforma em óptimos, ou prende os que podiam constituir uma carreira internacional – por ex. o menino doiro de seu nome João Vieira Pinto.
O Porto tem sorte. Tem, pronto. Tem boa capacidade de finalização, tem um bom guarda-redes, tem bons jogadores. Tem uma boa gestão. O Papa anda nisto do futebol há muitos anos e sabe (???) o que faz, com aquele som monocórdico e rosto inexpressivo com que faz as suas declarações. Teve grandes líderes – João Pinto, Aloísio, Jorge Costa. Teve o Fernando Couto. E teve acima de tudo o Mourinho, convenhamos....O Sporting é a melhor escola de aprendizagem. Depois do Boloni catapultar os mais jovens para a equipa sénior, os restantes resolveram seguir-lhe o exemplo, e não se estão a dar mal. Gostava do Schmeichel – berrava com os defesas, impunha ordem. Não sei o que se passou na cabeça do Paulo Bento quando escolheu os capitães de equipa – até porque o Moutinho não me impressiona por aí além, como jogador.
Se prognósticos só no fim, posso só acrescentar que a pré-temporada é diferente do campeonato que por sua vez é diferente das competições internacionais.
Dou o benefício da dúvida ao Fernando Santos, de quem fiquei a gostar um pouco mais. O sistema defensivo é que tem de funcionar melhor. Ao Sporting, que não encha já o peito de esperanças e o Porto que não dê como certa a conquista de mais um troféu.
Mas cá entre nós... Se o Super Mário recuperar a Forma, ainda vamos ter um Beira-Mar Campeão!...
sábado, agosto 26, 2006
sexta-feira, agosto 25, 2006
TOLERÂNCIA E RESPEITO
A tolerância e o respeito têm muito que se lhe diga. São dois valores cada vez mais em desuso na sociedade actual, onde as pessoas vivem stressadas, imbuídas no seu próprio ser sem tempo para dedicar aos outros e sem paciência para tal.
Por vezes custa muito sermos tolerantes quando esperamos pelo autocarro que está vinte minutos atrasado, quando a pessoa com quem falamos nos irrita solenemente, enfim, são várias as ocasiões em que nos é exigido sermos tolerantes e que nos custa muito a sê-lo efectivamente.
A tolerância é uma espécie de paciência para com alguém que levada ao extremo se pode transformar em indiferença. É um valor que nem sempre é fácil de cumprir e que é fácil não cumprir, mas que está sempre presente ao longo do nosso dia a dia. Resulta da convivência que se quer pacífica com os outros, que nem sempre são alvo de uma cuidada atenção e compreensão. A intolerância resulta de uma falta de tempo para com os outros - para os compreender, para os tentar perceber, para dedicar-lhes alguns minutos de atenção que se quer mais especial.
Podemos dizer que, por natureza, todos somos um pouco intolerantes porque todos somos um pouco egoístas. Nem sempre é fácil desligarmo-nos do nosso umbigo e olhar para os outros na tentativa de os compreendermos. Porque partimos do princípio de que primeiro estamos nós e o nosso bem-estar e só depois os outros. Mas os outros são parte integrante do nosso mundo, dão-lhe um sentido – não vivemos sozinhos e tal como dependemos dos outros para que nos ouçam também eles requerem da nossa ajuda quando se dá o inverso. Podemos nem sempre estar para aí virados mas devíamos estar.
O respeito é outro valor que tem a ver com os outros embora parta de cada um de nós. O respeito é um preocupar-se com, é um tomar em consideração, é um acto de amor – só há amor quando o respeito se instala pois não é possível amar sem respeitar o outro e vice-versa. Tal como nos respeitamos a nós próprios assim devemos respeitar os outros.
De certa maneira, respeito e tolerância aparecem interligados. Ambos são um ter em atenção os outros, dedicar-lhes atenção, compreendê-los, ou pelo menos tentar fazê-lo da melhor maneira, que é a como gostávamos que fizessem connosco. Partindo do nosso eu é possível encontrar a melhor maneira de tratarmos os outros.
Sem o respeito e a tolerância, dois valores constituintes do estado democrático, a anarquia instalar-se-ia facilmente sob múltiplos aspectos e é isso que se tenta evitar promovendo valores tão fundamentais como o são os anteriormente referidos
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ana valente
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quinta-feira, agosto 24, 2006
Como água para o vinho
A Maria tinha ar de gata, pequena, magra, delgada, ágil, esperta, com aquele olhar reguila. Parecia sempre pronta a mostrar as garras, agressiva e serena, tal era o seu estado de espírito. Dizia que não tinha “papas na língua”, chamava insensato ao mundo e ria-se da sua hipocrisia. Ria-se muito. Quem gostava da Maria venerava-a ou, então, não a suportava de todo. Mas era o seu ar doce que cativava e as palavras incisivas que proferia que faziam não querer sair do seu lado. A Maria era um encosto fácil e confortável, turbilhão de mares. Fez da sua vida exactamente o que queria ter feito, salvo raras excepções. Mas dizia que não. Não que se queixasse ou lamentasse - a Maria tinha saudades do passado e tinha recordações mas dava-lhe muito mais prazer sonhar, sonhar com o futuro e viver o presente. Por isso é que todos, tão diferentes dela, se deliciavam com a sua oratória e os seus longos silêncios, que nos momentos mais críticos logo indicavam que algo corria mal. Diziam que era só treta, sem conhecimento de causa - “Ah! essa Maria, candidata a filósofa.”. Qual quê, a verdade - “Ah! essa Maria, filósofa de facto!”, pois que é a filosofia senão a vida, escrita, falada e pensada!? A Maria era anormalmente comum mas ordinariamente diferente. Falava, enganava-se, chorava, ria, errava, caía, levantava-se, sorria, chorava e falava. Nunca fugia aos sentimentos e talvez tenha sido a franqueza dessa sinceridade que a fez sofrer o desgosto de amor, o qual nunca referia, até porque, achava ela, de uma maneira ou de outra, todos nós já sofremos por amor e todos nós já sofremos de amor. A grande diferença nesse ponto comum são pequenos pormenores sem importância que o destino de cada um se encarregou de alterar. Parecia quase perfeita a Maria, mas humana como os de resto. Houve quem chegasse a duvidar que existisse e fosse ilusão, alento que os tornava melhores, consciência a correr para uma sensatez perdida. Simplesmente Maria, como uma luva sedosa que encaixa perfeitamente na mão fina e branca.
A Marta era a melhor amiga da Maria. Completamente diferentes, como água e vinho, dia e noite, luz e escuridão. Praticamente da mesma idade mas abismalmente distintas em tudo o mais. Marta era loira, a pele clara cobria um rosto sereno com uns grandes olhos cor de mel que denunciavam qualquer emoção. Muito franca, muito indecisa, muito pouco determinada e muito muito desorganizada. Conheceram-se na faculdade, logo no primeiro ano de Direito, nessa cidade de encantos que é Coimbra e a empatia entre ambas estabeleceu-se desde o início. Mais do que simpatia um sentimento de carinho, protecção e amor incondicional desse que só a amizade é capaz de dar conta e de eternizar para o resto da vida.
Pouco sociável a Marta, preferia longos silêncios a ser impelida a participar em debates e conversas em que forçosamente era obrigada a dar a sua opinião. Muito insegura, cheia de não seis, fugia a sete pés de tudo aquilo que implicava tomar partido, tomar decisões. Muito indecisa, cheia de pezinhos de lã para não magoar os outros mesmo que quem tivesse de sair magoada fosse ela quando calhava ouvir o que não gostava. Mas nem por isso caia no erro fácil do "olho por olho, dente por dente" e já que disseste isso ora fica-te com esta! Não era esse o seu estilo, a não ser que dissessem mal de alguém muito querido, como da Maria por exemplo. Aí tornava-se uma fera, mostrando todas as suas garras e unhas e dentes e tudo o que fosse preciso. Muito fiel, cheia de convicções românticas da vida que pintava de tons cor de rosa bebé. Quase etérea, alma que vagueava pela vida dos outros quase imperceptivelmente mas que tornava a vida mais leve, liberta de constrangimentos castradores da felicidade. Quase feliz, cheia de uma tristeza cheia de nada que enchia os seus olhos grandes no rosto distraído por essa luz que vinha não se sabe de onde nem porquê mas que inundava os demais.
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ana valente
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domingo, agosto 20, 2006
A mulher (especulações)
A mulher não devia ter mais do que 35 anos. Talvez fosse mais nova, mas o cansaço estampado no rosto denunciava uma idade aproximada à especulada.Estava exausta a mulher. A cada paragem do metro estremecia o corpo e abria os olhos de um sono sobressaltado que era mais forte do que ela. Mexia no cabelo, trocava a perna, dava duas voltas ao pé e retomava o sono inquieto.Era casada, o anel denunciava-o, com dois filhos a mulher e, talvez por isso, se entregasse tão facilmente à sonolência, adivinhando desde logo o que tão bem conhecia - o carinho que ainda teria de dedicar à família também ela exausta após mais um dia de escola e trabalho.A mulher devia trabalhar muito, começava de manhã, num café, provavelmente, e acabava o turno tarde. Eram sete horas da tarde quando se encontrava no metro, com destino à Pontinha, na periferia de Lisboa capital.Devia ter sido a moça mais bonita do bairro, casou-se com o moço mais bonito também e que mais a amava, por volta dos dezoito anos, quatro depois de ter deixado de estudar para trabalhar num mercadito qualquer a fim de ajudar a família. A mesma família que desde cedo lhe deu conhecimento de que a sobrevivência é um caso muito sério e que desde cedo lhe incutiu a ideia de que a luta por uma estabilidade económico-financeira exigia muito trabalho.Agora mulher, as dificuldades não paravam de persegui-la - continuava a trabalhar muito, como sempre tinha feito, para com o marido tomar as rédeas do sustento da casa, dos filhos, aos quais nada deixava que faltasse, dentro do possível.Dormitava a mulher e abria os olhos estremecida a cada paragem do metro, mexia no cabelo, trocava de perna e dava duas voltas ao pé. O rosto cansado deixava transparecer a beleza de outrora mas também a embaciava. tinha-se de prestar atenção.Exausta a mulher, quase a chegar a casa, aos dias iguais, a lutar pela vida e pela sua família, a fazer-se a ela todos os dias, com todas as suas forças.A luta contra as dificuldades da vida e pela sobrevivência económico-financeira, pelos estandos de felicidade é um caso muito sério....
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Quanto vale uma experiência?
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ana valente
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