domingo, agosto 20, 2006

A mulher (especulações)

A mulher não devia ter mais do que 35 anos. Talvez fosse mais nova, mas o cansaço estampado no rosto denunciava uma idade aproximada à especulada.Estava exausta a mulher. A cada paragem do metro estremecia o corpo e abria os olhos de um sono sobressaltado que era mais forte do que ela. Mexia no cabelo, trocava a perna, dava duas voltas ao pé e retomava o sono inquieto.Era casada, o anel denunciava-o, com dois filhos a mulher e, talvez por isso, se entregasse tão facilmente à sonolência, adivinhando desde logo o que tão bem conhecia - o carinho que ainda teria de dedicar à família também ela exausta após mais um dia de escola e trabalho.A mulher devia trabalhar muito, começava de manhã, num café, provavelmente, e acabava o turno tarde. Eram sete horas da tarde quando se encontrava no metro, com destino à Pontinha, na periferia de Lisboa capital.Devia ter sido a moça mais bonita do bairro, casou-se com o moço mais bonito também e que mais a amava, por volta dos dezoito anos, quatro depois de ter deixado de estudar para trabalhar num mercadito qualquer a fim de ajudar a família. A mesma família que desde cedo lhe deu conhecimento de que a sobrevivência é um caso muito sério e que desde cedo lhe incutiu a ideia de que a luta por uma estabilidade económico-financeira exigia muito trabalho.Agora mulher, as dificuldades não paravam de persegui-la - continuava a trabalhar muito, como sempre tinha feito, para com o marido tomar as rédeas do sustento da casa, dos filhos, aos quais nada deixava que faltasse, dentro do possível.Dormitava a mulher e abria os olhos estremecida a cada paragem do metro, mexia no cabelo, trocava de perna e dava duas voltas ao pé. O rosto cansado deixava transparecer a beleza de outrora mas também a embaciava. tinha-se de prestar atenção.Exausta a mulher, quase a chegar a casa, aos dias iguais, a lutar pela vida e pela sua família, a fazer-se a ela todos os dias, com todas as suas forças.A luta contra as dificuldades da vida e pela sobrevivência económico-financeira, pelos estandos de felicidade é um caso muito sério....

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