segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Se conseguir simplificar a minha vida ao que de mais básico ela possa vir a necessitar vislumbro estandos de felicidade. Tais pensamentos são tão ou mais frequentes quando dou por mim, olhando para mim e para a minha vida com um total, absurdo mas absoluto desinteresse.
E então penso que não preciso ir muito longe. Que de mim, querendo ou não, não me é possível fugir.
Peço mar. Um marido pescador, os meus/nossos filhos. Que ele me trate bem.
Que eu goste dele.
Vejo com uma clareza e nitidez que só a nossa imaginação é capaz de fabricar:
O meu rosto marcado, vincado pelo sol, o cabelo seco apanhado num rabo de cavalo. De lado há muito postas de parte as vaidosices.
A cara despojada de creme ou base ou rouge ou sombra. O corpo que cheira a corpo e a maresia e não a um desses perfumes caros. De lado as roupinhas de menina bonita, os conjuntinhos, as combinações.
O coração nas mãos de tanto que aperta ao ver o meu marinheiro a fazer-se aà vida e entrar no mar. A mão esticada sobre os olhos para que o sol não me impeça de o ver bem. O olhar a perder-se no horizonte longe. Lá longe onde não se sabe onde começa o céu e acaba o mar.
Acordar desse transe com a voz dos meus filhos a puxarem-me as saias.
De manhãzinha vou lavar a roupa para o tanquee estendo-a enquanto faço contas á vida.
Antes do jantar vamos todos à praia, findo o dia de trabalho e de estudo para alguns deles. Contar-lhes histórias de sereias e marinheiros como o pai. Passam-me a mão pelo cabelo seco pelo sol e dizem que a mãe foi a sereia mais bonita que o pai encontrou e que foi por isso que se enfeitiçou por mim. Enquanto me rio contenho as lagrimas num soluço. Passo-lhes a mão pelos cabelos, acabo de dar de mamar. E penso que talvez seja hora de lhes contar outras histórias....