quinta-feira, setembro 28, 2006

Noite e Dia


Às vezes à noite
Acontece
Ouvir o teu respirar
Que com a manhã
Desaparece
Para mais tarde regressar


Às vezes à noite
Parece
Sentir o teu calor
Que a manhã
Arrefece
Mas faz tremer de amor


Às vezes a noite
Esquece
O teu ser em mim
Que a manhã
Entorpece
Numa lembrança sem fim


Às vezes na noite
Permanece
Um cheiro que é só teu
Que a manhã
Desvanece
Para torná-lo meu


Às vezes o dia
Perece
Ante tua imagem fugidia
Que a noite faz com que
Regresse
Assim como a minha alegria

Autor

“Autor: o que se expõe mais do que se expõe, o que inventa e o que se inventa, o que se finge, o que se esconde, o que se mostra”

in “A Terceira Rosa”
Manuel Alegre

quarta-feira, setembro 27, 2006

Quem


Quem me abandona
Sob a luz fugidia
E amaldiçoa
O dia que principia

Quem veio de onde
E me levou para perto
Quem de mim esconde
O meu vasto deserto


Quem me canta baixinho
A dor da habituação
E depois, devagarinho
Me conduz à solidão


Não me inspiras um poema, vida minha
A alma cinzenta consome toda a euforia
Fica somente a cor sombria
E no passar do tempo
Permaneço sozinha....

Fuga


Era noite
Ela fugia
E não temia
Os segredos ocultos
Ou leves tumultos
Que se levantavam
Não os ouvia
Apenas corria
Sem tropeçar.

Era noite
Sem destino traçado
E o corpo aliviado
Não queria parar.
Ela não sabia
Mas a alma vazia
Também corria
Para a alcançar.

A noite cerrou-se
E o coração fechou-se
A quem quisesse entrar
O silêncio profundo
E a ausência do mundo
Fê-la desencontrar
E o que procurava
Já alto voava
Por entre o luar.

terça-feira, setembro 26, 2006

Névoa


Vão longe as noites quentes de Verão

Longe vai o barco que navega no mar

Aproxima-se a dor que corroi o coracão

Está perto e eu prestes a chorar


Vai longe a doce sensação

De me sentir bem e sorrir

Bem mais perto esta a vontade

Desta magoa que não quer partir


Partirei eu um dia

E na morte encontrarei um céu a brilhar

Deixará de ser minh´ alma vazia

Deixarão meus olhos de chorar


As lágrimas que cobrem meu rosto

São marcas que a dor causou

Talvez com o sol de Agosto

Possa dizer que o tormento terminou


Nesse dia gritando espalharei

Que não sou triste, estou contente

E tudo que no passado chorei

Foi compensado pelo sereno presente