sexta-feira, setembro 08, 2006

António Botto

[Quanto, Quanto Me Queres? – Perguntaste]


Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.


Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida…


Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar…

Não perguntes, não sei – não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

Impressão Digital - António Gedeão

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.


Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.


Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.


Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D, Quixote vê gigantes.



Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.



Detesto estar parada em frente a este computador a pensar em algo para escrever. É que já não o faço há tanto tempo…. Limito-me a ler coisas dos outros, pensar que um dia também eu escrevia coisas que as pessoas gostavam de ler e agora é só um vazio que me consome a alma e que congela o cérebro.

Às vezes gostava que estes meninos aprendessem alguma coisa comigo mas não me parece. O meu papel aqui é decorativo, quase passivo. De vez em quando ponho umas músicas que eles acham pirosas, quem sabe se no futuro não sussurrarão algumas palavras nelas contidas aos ouvidos das namoradas, não dessas que eles têm agora, mais tarde. Será que se lembrarão onde as ouviram? De qualquer maneira não me parece…


"Para sempre é sempre por um triz". Nunca tinha pensado no “para sempre” nestes termos. Para mim para sempre tinha de ser mesmo para sempre. Ou enquanto durasse, mas isso já era mais difícil. Só que até agora nunca foi, talvez até tenha estado lá perto, por esse triz em que se perdeu e nos perdemos.

Bucólica


BUCÓLICA

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento

De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra duma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga

Parir amor




Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Primeiro foi a palidez
Os sucessivos enjoos – meu filho como eu enjoava!
Confundiram-na com a calidez
Da minha face que se alterava…

Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Depois sentia-te dentro de mim

(E como era bom sentir-te! )
E eras parte integrante e sem fim
Dum ser que te amava
Antes de nascer…

Trago um filho no ventre
Estarei diferente?

Olho-me no espelho
Sim. Estou diferente…
Fisicamente porque uma barriga cresce,
Mas, principalmente, porque sou uma Mulher prestes a ser Mãe!

E agora Filho que do meu ventre saíste
E a ele não poderás mais voltar
Terás para sempre o meu colo
Que eu tenho sempre para te dar…
E embalar

Para toda a tua vida.



Trouxe um filho no ventre
Claro que estou diferente!

Estrela





O meu sonho não tem cor

Não tem vida sequer

É o meu desejo de viver

Que proclamo ao adormecer

Embalada pela dor



Ela tinha um nome, porque todos temos um nome quando nascemos, mas queria ver-se livre dele. O seu nome era Estrela.

Ela, a Estrela não gostava de si e, consequentemente, era difícil nutrir algo pelos outros, porque se repugnava em tudo o que dizia. Por vezes sentia uma certa comiseração por si própria, mas esses sentimentos não iam muito além disso.

Não se apaixonou. Vivia o dia a dia porque era esse o fardo que a vida lhe impôs. Um dos seus poucos amigos quando já farto fartinho das suas lamúrias dizia-lhe sem rodeios, friamente, para magoá-la: Mata-te. Magoava-a sim, porque naquele momento pensava na sua cobardia que travava a acção.

Era isso a vida para ela: uma espera indefinida.

À noite, antes de adormecer, não fazia planos, não agendava tarefas, não pensava no que vestia, não olhava para si. Olhava muito para os outros, projectava neles os seus desejos, a sua fé incondicional na raça humana.

As pessoas gostavam da Estrela - ela não compreendia porquê. A Estrela nunca lutou por nada, nem pela vida, quanto mais por ela. Esperava fazendo dessa espera o preenchimeto do seu vazio, o completo abandono nela e por ela.

Um dia a Estrela vai morrer, porque todos morremos um dia. Até lá, talvez se arrependa ou talvez lá se arrependa. Talvez se aperceba quão inútil e vã é a ausência de ter uma vida e de a viver até ao tutano. Talvez sinta a sua falta. Talvez deixe de sentir pena de si e passe a sentir ódio.

Pobre Estrela...

Esta dor não a larga. A Estrela chora a solidão que contruiu, chora um canto fatídico, premonitório... Aguarda... Nada de novo. Ai a cobardia. A Estrela chora porque quer morrer. Não!, ela não quer morrer. A Estrela chora porque não quer viver. É diferente. É a vida que ela despreza, a sua vida, não os outros, a dos outros, eles.

A Estrela quer morrer

A Estrela não quer viver

A Estrela não queria ter nascido

A Estrela queria desaparecer

A Estrela queria ser outro alguém

A Estrela está farta de si


Mas vive.

É alguém - é ela própria.


Um dia a Estrela encheu-se dela e mudou radicalmente, do oito para o oitenta, do dia para a noite. Completou-se. Apaixonou-se por alguém por quem por ela se tinha enamorado. Valorizou-se e deu valor à vida que tinha. Encheu-a e preencheu-a o mais que lhe foi possível. Enfeitiçou-se e estava feliz.


Depois entristeceu...





quinta-feira, setembro 07, 2006

Ai, ai os homesns e as mulheres....

Homens e mulheres são diferentes. Aparte as diferenças físicas, por si só tão evidentes, pensam de maneira diferente, agem de maneira diferente, têm modos de estar e de falar diferentes. Por isso, o tão proclamado feminismo não é mais do que uma tentativa forjada de combater o que à nascença o mundo, ou o criador, não fez de forma igaul. Não quero com isto dizer que não ache bem que as mulheres vistam as calças e tenham as mesmas condições de trabalho do que os homens, mas há que limar as arestas para não cair num extremismo exarcebado.
Não se sabe muito bem o que um homem procura ao certo numa mulher. Talvez a segurança que as mães lhe transmitem, qual complexo de Édipo mal resolvido. Dizem que as mulheres são complicadas mas os homens não lhes ficam muito atrás.
É difícil perceber o que um homem quer de facto - se uma noite bem passada ou um eventual relacionamento mais sério, ou tudo o que há nas entrelinhas entre esse oito e oitenta. E as mulheres confundem muito isso. Envolvem-se com mais facilidade, criam ilusões mais rapidamente e, quando a coisa dá para o torto, amarguram. Atristeza é mais feminina do que masculina, salvo raras excepções.
Os homens têm uma incrível predisposição para a traição, o que é mal-encarado e mal aceite pelas mulheres (não poderia deixar de ser, né?). Ou será que são as mulheres que sabem trair melhor, sem grande estrilho, pela calada? A traição é sempre um factor de desagregamento de uma relação, podendo mesmo destruí-la. Os homens não resistem a dar uma escapadinha, não se cansam de olhar para as mulheres mais vistosas, ainda que com a mulher que dizem ser da sua vida ao lado. Se se ficassem por aí não haveria problema. O problema surge quando eles passam à acção, tentanto aumentar o número de mulheres com que dormiram, como se isso os fizesse sentirem-se mais machos, como se isso fosse prova de alguma coisa.
Mas as mulheres também sabem fazer a vida negra aos homens com as suas constantes inseguranças e variações de humor, umas autênticas caixinhas de Pandora - nunca se sabe o que de lá vai sair quando se abre. Por isso, os homens têm que ser cautelosos, muitos sabem que estão a pisar terreno minado e há que ter cuidado para não deitar tudo a perder. Isto quando e se estiverem mesmo interessados. Porque se não estão nada disso importa.
Dizem que o fruto proibido é o mais apetecido e relativamente aos homens, alguns, parece que essa máxima encaixa na perfeição. É sabido que não há nada melhor para prender a atenção de um homem e manter o seu interesse do que uma mulher que se faz de difícil. Neste aspecto os homens parecem ser um bocadinho masoquistas - quanto mais se lhes dá com os pés mais eles correm atrás.
Claro que como em tudo na vida há homens e homens e mulheres e mulheres e a excepção não confirma nenhuma regra. Equilíbrio nos relacionaentos é a palavra chave. E deixar fluir o curso natural - como uma onda do mar que corre para o rio na direcção destes dois seres há-de correr algo muito forte.

Eu Sou Pela Selecção Nacional!!!


Não se vive sem futebol em Portugal. É um facto. Ninguém dispensa aquele calafrio no estômago que se sente sempre que o clube da nossa eleição defronta outro. Ninguém deseja mais do que tudo do que um fim-de-semana repleto de transmissões televisivas ou dos relatos de futebol, isto quando não é possível a deslocação ao estádio para ver in loco o clube que tanto nos faz vibrar.
Alguém descreveu a trilogia portuguesa como Fado, Fátima e, claro está, Futebol. Aparte os jogos da I Liga é quando joga a Selecção Nacional que os corações ficam ao rubro. Clubissices ao lado, todos se unem num só objectivo: ver os nossos "meninos" fazerem das suas com os pés que, às vezes, mais parecem mágicos e, se possível, ganhar.
Como há muito tempo não se via igual, Portugal e a sua selecção de ouro é temida pelos grandes da Europa e do Mundo. Já se viu que Portugal pode ir longe, pode encher de orgulho todos aqueles que vão torcer até às últimas consequências pela selecção, pelos "meninos" cheios de talento a aventurarem-se por voos tão mais altos. “Meninos” que quando jogam nos seus clubes não são brilhantes mas que integrados no conjunto nacional ultrapassam o brilhantismo – são profissionais à séria, lutam, choram, riem, vibram, dão-nos – a nós adeptos – uma alegria enorme que até de desculpa quando perdem, porque sabemos que dão tudo por tudo. Eu sei que somos todos treinadores de bancada, e o que escrevo é tão-somente o que sinto.
Resta esperar, mas com fé, com muita fé, ou como eu agarrada ao cachecol, atapar os olhos nos lances mais perigosos e a suspirar de alívio quando esses passam, sejam bons ou maus. E se não formos tão longe quanto o esperado pelo menos sabemos que tentamos, que eles, esses "meninos" deram o melhor de si e mais não conseguiram porque outros melhores do que nós não o permitiram. Há que ter a humildade em admitir que não somos os melhores do mundo. Mas para lá caminhamos, a avaliar pelo que nos tem sido mostrado, esquecendo alguns desaires, mas, pronto, são coisas que acontecem. Não podemos nunca ter a ousadia e a veleidade de nos acharmos, a priori, os melhores, imbatíveis, inderrubáveis. Porque não o somos e todos sabemos que no que toca ao futebol a sorte pode sempre ajudar um bocadinho quando aliada ao saber jogar, e isso os nossos " meninos" já têm.
Aos pupilos de Scolari cabe a difícil tarefa de não desiludir aqueles que neles apostam e que deles esperam simplesmente uma coisa: que façam o serviço o mais direitinho quanto for possível, perdendo ou ganhando.
Estou farta das tricalhices do nosso campeonato, devem ser únicas de tão mesquinhas que são, e por isso mesmo tomei uma decisão – deixo o meu coração bater e simpatizar pelo Benfica mas passo a ser adepta ferrenha da Selecção Nacional!!!

terça-feira, setembro 05, 2006

Tempos e tempos e tempos e tempos

"Um tempo", disse ele ou ela. Indeterminado. Pouco assimilado. Mal compreendido. Dificilmente acatado.
É sabido por todos aqueles que já passaram a experiência de lhes pedirem um tempo ou serem eles a pedir um tempo, que os "tempos" são o princípio do fim, fim esse que se vai arrastando num adiamento passível de gerar a todo o momento a ilusão que o "tempo" passe depressa e com ele a dor, ou pelo menos a vá acalmando, numa espécie de previsão antecipada de um fim desde o início previsto.

Primeiro pensa-se que tudo não passará de ausências passageiras às quais o corpo se irá aos pouquinhos habituando: do outro corpo, de carinhos, da voz, dos telefonemas. Quem pede um "tempo" sabe que vai privar o outro de tudo para depois, quando o tempo já não carecer nem aguentar mais "tempo" cortar o mal pela raíz.

Para quem espera a dor não diminui - prolonga-se e prolongar-se-á indefenidamente, coadjuvada pela esperança matreira que o ser querido(a) ainda vai reconsiderar e acabar por voltar, desculpando-se. Fazem-se filmes quando o sono teima em não vir - ele(a) voltará, é impossível que esqueça tudo porque passaram juntos, o quanto foram felizes, os sonhos que contruíram. Mas a todo o momento cerca-o(a) o mesmo vazio entre o frio dos lençóis: ele(a) já não está aqui. Mora no seu coração, é certo, e no seu pensamento, mas é um alojamento que se queria para sempre, isto é, enquanto houvesse amor ou enquanto não se consegue, por mais que se tente, expulsar o outro da nossa vida.

Esquecem-se, porque não compreendem, que por vezes há afastamentos que tal como o amor, a razão não é capaz de explicar - porque tais razões são desconhecidas. Apenas se sente. E o que se sente é uma vontade de estar só, de ter espaço, de não ter de dar satisfações, obrigações, de uma liberdade individual só alcançável pela abdicação do outro, Mesmo que ainda se goste, e às vezes gosta-se muito, mas tem de ser - e o que tem de ser tem muita força....

O "esperante" só pode pedir ao outro duas coisas: que o(a) livre desta doença ou que o(a) cure!

domingo, setembro 03, 2006

Os piratas já não moram aqui


Os piratas já não moram aqui
Viveram rápido e rápido passaram
Por entre a lua cheia e o céu vestido de um negro profundo

O mar já não se mexe, revolto de fúria à sua passagem
Enquanto eles riam desdentados
Na cara dos outros assustados

O vento forte não agita no mastro o seu estigma
Eles já não alteram a ordem natural do fluir da vida, ainda que imaginária

- Tudo passa neste mundo que nos arrasta até onde cansados já não queremos ir…

Vem uma nostalgia, um saudosismo antigo de tempos em que a bruma matinal resgatou à criança que ainda dormia…

Eu não vi nem tão pouco vivi nessa época em que os piratas ainda moravam aqui

O aqui e o agora

Falar sobre o futuro é debruçar-me no parapeito da utopia. Que futuro? O amanhã, a próxima hora, o próximo minuto, tudo que vai além do agora é absolutamente imprevisível. O passado já foi. O presente está a ser, o futuro será o que tiver de ser. Não devemos viver angustiados com nenhum desses tempos até porque não são controláveis.
Quando saímos do ventre materno nasce connosco uma estrada, cheia de curvas, contracurvas, intersecções, rotundas, caminhos, cruzamentos e! sem qualquer tipo de indicação. Resta-nos percorrê-la. Não há nenhum retorno uma vez escolhido um caminho. Podemos muitas vezes parar num beco escuro, aninharmo-nos e até chorarmos por não ver qualquer saída. Mas levantamo-nos, damos passinhos pequeninos e por fim uma luz que nos tira de lá. E outro caminho nasce…
Claro que o futuro assusta estando ele, umbilicalmente, ligado ao crescer. Quando mais nova falava do futuro equivalia a falar de mim adulta, imaginando-me a viver essa vida neurótica dos crescidos que ia observando. Crescer implica uma série de coisas, mas de forma alguma será sinónimo de abandonar os sonhos que nos comandam a vida mas antes lutar a fundo para os tornar realidade.

Querer

Diz uma canção que “querer muito é poder”. De certeza que ainda te lembras, acho que gastámos o cd de tanto a ouvirmos, a melodia que nos entrava alma dentro sem pedir licença e as palavras para sempre gravadas em mentes por vezes excessivamente racionais.
Eu sei, e tu também deves saber, que à música que cantávamos de cor só faltava um pequeno pormenor. Para poder de facto é preciso fazer. A passagem ao acto e a luta pela igualdade no mundo desigual é naturalmente difícil.
É fácil, bastante mais fácil, acomodarmo-nos, deixar que a luta que nos pertence ser tomada por outros, se bem que depois não saibamos lidar com essa perda. E as palavras são feitas de matéria etérea, “leva-as o vento”, não é?
Nascer, crescer, morrer. Este é o ciclo natural da vida, com o qual somos confrontados (mal) saídos do ventre materno. O tempo ensina que essa ordem pode ser facilmente invertida, tudo pode fugir num instante que temos de agarrar com todas as forças, pelo menos com todas as que dispomos, ás vezes superarmo-nos, resmungar com o corpo cansado que nos diz que já não aguenta mais, desafiá-lo, explorar os limites. Tudo é permitido quando é o nosso destino que está em jogo, ou a nossa felicidade.
A compensação? Por vezes basta um sorriso. E todo o esforço se contrai num só pensamento: quis muito, fiz mais e consegui. Então podes cantarolar novamente a musiquinha com a sensação que és parte integrante dela e que ela foi deita a pensar em ti....