
O meu sonho não tem cor
Não tem vida sequer
É o meu desejo de viver
Que proclamo ao adormecer
Embalada pela dor
Ela tinha um nome, porque todos temos um nome quando nascemos, mas queria ver-se livre dele. O seu nome era Estrela.
Ela, a Estrela não gostava de si e, consequentemente, era difícil nutrir algo pelos outros, porque se repugnava em tudo o que dizia. Por vezes sentia uma certa comiseração por si própria, mas esses sentimentos não iam muito além disso.
Não se apaixonou. Vivia o dia a dia porque era esse o fardo que a vida lhe impôs. Um dos seus poucos amigos quando já farto fartinho das suas lamúrias dizia-lhe sem rodeios, friamente, para magoá-la: Mata-te. Magoava-a sim, porque naquele momento pensava na sua cobardia que travava a acção.
Era isso a vida para ela: uma espera indefinida.
À noite, antes de adormecer, não fazia planos, não agendava tarefas, não pensava no que vestia, não olhava para si. Olhava muito para os outros, projectava neles os seus desejos, a sua fé incondicional na raça humana.
As pessoas gostavam da Estrela - ela não compreendia porquê. A Estrela nunca lutou por nada, nem pela vida, quanto mais por ela. Esperava fazendo dessa espera o preenchimeto do seu vazio, o completo abandono nela e por ela.
Um dia a Estrela vai morrer, porque todos morremos um dia. Até lá, talvez se arrependa ou talvez lá se arrependa. Talvez se aperceba quão inútil e vã é a ausência de ter uma vida e de a viver até ao tutano. Talvez sinta a sua falta. Talvez deixe de sentir pena de si e passe a sentir ódio.
Pobre Estrela...
Esta dor não a larga. A Estrela chora a solidão que contruiu, chora um canto fatídico, premonitório... Aguarda... Nada de novo. Ai a cobardia. A Estrela chora porque quer morrer. Não!, ela não quer morrer. A Estrela chora porque não quer viver. É diferente. É a vida que ela despreza, a sua vida, não os outros, a dos outros, eles.
A Estrela quer morrer
A Estrela não quer viver
A Estrela não queria ter nascido
A Estrela queria desaparecer
A Estrela queria ser outro alguém
A Estrela está farta de si
Mas vive.
É alguém - é ela própria.
Um dia a Estrela encheu-se dela e mudou radicalmente, do oito para o oitenta, do dia para a noite. Completou-se. Apaixonou-se por alguém por quem por ela se tinha enamorado. Valorizou-se e deu valor à vida que tinha. Encheu-a e preencheu-a o mais que lhe foi possível. Enfeitiçou-se e estava feliz.
Depois entristeceu...