terça-feira, setembro 05, 2006

Tempos e tempos e tempos e tempos

"Um tempo", disse ele ou ela. Indeterminado. Pouco assimilado. Mal compreendido. Dificilmente acatado.
É sabido por todos aqueles que já passaram a experiência de lhes pedirem um tempo ou serem eles a pedir um tempo, que os "tempos" são o princípio do fim, fim esse que se vai arrastando num adiamento passível de gerar a todo o momento a ilusão que o "tempo" passe depressa e com ele a dor, ou pelo menos a vá acalmando, numa espécie de previsão antecipada de um fim desde o início previsto.

Primeiro pensa-se que tudo não passará de ausências passageiras às quais o corpo se irá aos pouquinhos habituando: do outro corpo, de carinhos, da voz, dos telefonemas. Quem pede um "tempo" sabe que vai privar o outro de tudo para depois, quando o tempo já não carecer nem aguentar mais "tempo" cortar o mal pela raíz.

Para quem espera a dor não diminui - prolonga-se e prolongar-se-á indefenidamente, coadjuvada pela esperança matreira que o ser querido(a) ainda vai reconsiderar e acabar por voltar, desculpando-se. Fazem-se filmes quando o sono teima em não vir - ele(a) voltará, é impossível que esqueça tudo porque passaram juntos, o quanto foram felizes, os sonhos que contruíram. Mas a todo o momento cerca-o(a) o mesmo vazio entre o frio dos lençóis: ele(a) já não está aqui. Mora no seu coração, é certo, e no seu pensamento, mas é um alojamento que se queria para sempre, isto é, enquanto houvesse amor ou enquanto não se consegue, por mais que se tente, expulsar o outro da nossa vida.

Esquecem-se, porque não compreendem, que por vezes há afastamentos que tal como o amor, a razão não é capaz de explicar - porque tais razões são desconhecidas. Apenas se sente. E o que se sente é uma vontade de estar só, de ter espaço, de não ter de dar satisfações, obrigações, de uma liberdade individual só alcançável pela abdicação do outro, Mesmo que ainda se goste, e às vezes gosta-se muito, mas tem de ser - e o que tem de ser tem muita força....

O "esperante" só pode pedir ao outro duas coisas: que o(a) livre desta doença ou que o(a) cure!

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