Será que ainda te lembras?
Será que ainda te lembras dos beijos que trocávamos, no final das aulas, quando me levavas a casa, ciumento que eras, porque sabias que se não fosses tu outros se ofereceriam e tu não gostavas dessas partilhas, porque, justificavas, esses momentos eram só nossos. Tão nossos que às vezes penso que o tempo, que nessa altura corria apressado mas que nos entretantos parece ter parado, os conservou, lá onde só o pensamento ansioso de lembranças doces consegue alcançar e recordar.
E eu, chegava a casa sempre atrasada para o almoço, ouvia um raspanete da minha mãe, admiradíssima com o ar de felicidade estampado no meu rosto, que ela não compreendia, e como poderia se não sabia que esses minutos que me esfriavam o prato eram os mesmos que me aqueciam o coração.
Será que tu ainda te lembras desse Inverno gelado, quando caminhávamos vagarosamente sobre a chuva, num único chapéu, o meu, que eu bem sei que tu fazias de propósito por te esqueceres do teu para te colares a mim e dizeres que o meu cabelo cheirava bem. Eu também fazia de propósito por me esquecer das luvas para me queixar do frio para que tu me aqueceres as mãos.
Tudo feito como se tratasse de uma promessa velada, selada em beijos escondidos, de uma pertença que acreditávamos ser eterna mas que não foi.
Lembraste? Eu nunca me esqueci do cheiro das folhas que caíam no chão enquanto a minha felicidade se elevava ao céu...
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