quinta-feira, dezembro 27, 2007

Na tristeza apeteceu-me sorrir



Hoje apeteceu-me ser folha, misturar-me no inverno e nas cores de outono que ainda predominam. Apeteceu-me olhar. Ser terra e me misturar. Ter asas e pairar.
Entrei no jardim. Rostos desconhecidos, idosos aquecidos pela temperatura da hora de almoço, bem diferente da que se fazia sentir pela manhã, quando a geada nos tolhia os corpos que desapareciam dentro de grandes casacos....
Vi uma senhora dar de comer às pombas. quis ser pomba e ter uma migalha daquele carinho desprovido de qualquer retorno. Riu-se para mim a senhora, retribui. Sorriso sincero.
Passou outra por mim a chorar. Também eu sou hoje lágrimas salgadas por dentro. Quando de repente somos confrontados pela realidade de que a vida, nossa e de quem amamos, está tão presa quanto um fio... Quis voar dentro do manto das folhas e mergulhar nas lágrimas que todos deitavam ou guardavam. Descer e ser terra. Desci atordoada pela buzina de um carro.... E de volta à realidade - a vida presa à vida por um fio e o sol deste inverno no meu corpo....

quinta-feira, novembro 15, 2007

ConFUSOSões


15h02m
Estou à tua espera. Estás dois minutos atrasado, mais coisa menos coisa. O que é mau. Eu é que te espero e isso é pessimo. Porque eu fiz tudo para estar aqui na hora marcada. Corri tanto que depois até atrasei o passo para não chegar mais cedo - pelo menos não mais cedo do que tu.
Saí e mal tive tempo para me pentear. Depois nós, mulheres, é que somos vaidosas... Está bem, está.
Tento parecer o mais calma possível. Para não parecer que te espero.
Já passaram dez minutos sobre a hora combinada e tu de grilo. E eu ainda não desesperei nem me fui embora. Vendo bem, até deu jeito ainda não teres chegado. Fui à casa-de-banho e pentei-me. E pintei os lábios. Sempre fico com um ar mais apresentável - não que tu mereças. Conheces-me há um mês e fazes uma coisa destas. Deves julgar-te muito bom. É que nem sequer telefonas...
Espero bem que não apareças agora. Provavelmente seria a última vez que olharias para mim e eu, feita parva ainda quero demorar o meu olhar em ti.
Acho que ainda ninguém se apercebeu que me encontro plantada à tua espera. O cabelo também não está tão penteado quanto isso. Sempre quero ver o teu. Pelo menos aparece arranjado para mostrares algum empenho e eu pensar duas vezes antes de te dizer o que mereces ouvir. Francamente...
15h32m
Vou-me embora.
Que raios... Parece que é o teu carro que estou a ver à porta da minha casa.
O quê? Estás aqui há uma hora e três minutos há minha espera???
Só podes estar é a gozar comigo - então não combinamos no café??
Hoje de manhã? Falaste comigo hoje de manhã e combinamos na minha casa? Falaste comigo às oito horas e seis minutos da manhã, antes de ires trabalhar e quando eu ainda fazia meia-noite perdida entre os lençóis?? Claro que não me lembro. Já devias saber que de manhã raramente me lembro do que quer que seja!
O teu sorriso desarma-me. Não sei como consegues sorrir depois de "secares" à minha espera. O meu amor é um resistente!!!
Que te posso dizer?... Não me bastava ser mulher, com tudo o que isso implica, como tinha de nascer com uma lua na cabeça com os quartos trocados....

quarta-feira, outubro 31, 2007

Corpo Ausente



A tua ausência
Prolonga-se nesta cama fria
Onde me deito impaciente
Que de noite se faça dia.
Os lençóis gelados
Cobrem meu corpo que grita
Pelo teu corpo quente
Que uma vez ausente,
Em tudo participa.
A tua alma presente
Acentua o teu não estar.
Aguardo avidamente
Nesta cama de ninguém
Que se encha com o teu chegar.

terça-feira, outubro 30, 2007

O vício da Vida




A vida é um pequeno vício
Que se sorve pouco a pouco
Com efeito lento no início
Em graduação até ao estado louco

Uma droga leve e insípida
Que cria dependência
A triste consequência
É o sabor amargo
Que com um pequeno trago
Patenteia
Aquele que a saboreia

segunda-feira, outubro 29, 2007

Afogamento



Dois corpos revoltos
Unem-se na constelação
E depois já soltos
Aquietam-se no coração

Fica no espaço a calma
Um grito de sossego
Repousa na alma
Afasta o medo

O pano cai
Afoga-se no mar salgado
E na areia se esvai
O cúmplice apaixonado

Duvido que volte
Que tudo caia no esquecimento
Pode ser que então me solte
Do seu obsessivo preenchimento

sábado, outubro 20, 2007







O que há de eterno em Ti
Passeia pelo meu corpo
E o meu infinito
Chama num só grito
Por Ti

O meu mim
É só para Ti

quarta-feira, outubro 10, 2007

quarta-feira, agosto 22, 2007

Nem Verão, Nem Inverno, Tão-pouco Outono



Não era Verão nem Inverno. Mas parecia. Os dias eram quentes e durante a noite não se conseguia evitar o bater de dentes. Era Outono, um Outono completamente atípico.
Quando não restavam dúvidas de que era realmente Inverno questionei-me por onde andarias, se tinhas existido mesmo e entrado de rompante na minha vida, a qual consequentemente se tinha tornado mais leve...
Mas, nesse duro inverno, já não escutava nem um eco dentro de mim que denunciasse a tua presença. Dei por mim a pensar que talvez não tenhas passado de uma estrela cadente que depressa desapareceu no manto negro desse noite tão escura.
Então o sol deixou de brilhar, pelo menos para mim. Nem lhe prestei mais atenção...
É preciso não acreditar em nada para depois poder voltar a acreditar em alguma coisa. Nesse momento eu não sabia nada de nada... Neste momento também não sei grande coisa... Passou quase um ano... Nunca mais soube nada de ti, nunca mais perguntei, por medo não sei, mas ainda me lembro. Muito.

Olhando para trás penso que não me restam grandes alternativas. Devia ter sido mais esperta, mais inteligente, tudo mais e, noutros aspectos tudo menos. Que me perdi e perdi muito mais do que ganhei... Desencontrei-me de mim novamente.

Atingiste o meu ponto gravitacional e eu estatelei-me no chão.